Penso que
foi Maria Filomena Mónica que chamou a estes protagonistas do Portugal económico
“capitães da indústria”, que talvez devêssemos substituir neste caso por capitão
da economia do vinho. O trajeto de Fernando Guedes escalpelizado no artigo de
Manuel Carvalho é em si ilustrativo de como foi possível construir um grupo
empresarial de raiz familiar (a família Guedes e duas outras de figuras que
ajudaram na construção do universo Sogrape) apontado à economia global do
vinho. Sabemos como essa economia global do vinho é trituradora dos que não têm
unhas para ousar enfrentar o gigante. Essa trajetória de união de referenciais
na criação de valor só temporariamente foi ameaçada pela entrada na participação
do capital do “alien” Joe Berardo,
que obviamente não poderia dar certo porque ofendia a coerência do projeto. Na
construção do universo Sogrape há seguramente dimensões organizacionais que
valeriam poderosos estudos de caso de gestão nos tempos complexos da economia
mundial do vinho, a braços com estruturas de distribuição cada vez mais concentradas
e ameaçadoras. Essas dimensões organizacionais estiveram seguramente presentes
mesmo antes do universo se ter projetado na economia global, compreendendo que
uma coisa é fazer umas coisas engraçadas e valiosas para aparecer nas revistas
da especialidade, outra coisa bem diferente é ter escala para poder responder aos
desafios da procura. Ter-se-ão reforçado à medida que a Sogrape se transformou
numa economia global. Mas o que me interessa destacar é que essas dimensões
organizacionais não teriam existência sem a figura de quem assumiu inicialmente
o risco da aventura, quem definiu os seus colaboradores mais próximos de
jornada, quem educou a família para o seu projeto e preparou a sucessão com
paixão e responsabilidade.
Do Norte
para país e para o mundo sem perder os valores, sem os comprometer, criando uma
relação equilibrada entre o capital e o trabalho, fazendo dos valores da excelência
organizacional a base de toda a afirmação, eis a imagem do Norte que sempre
admiti ser possível que muitos compreendessem. O Senhor Fernando Guedes personificou
exemplarmente essa imagem do Norte global, foi uma das suas essências e por
isso o seu desaparecimento é uma perda que a organização Sogrape e os seus timoneiros
de hoje irão compensar, estou seguro disso, continuando a inscrever uma das
raras presenças portuguesas na economia global do vinho.
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