(Financial Times)
Daqui a
alguns muitos anos, quando os historiadores se debruçarem sobre os sobressaltos
do projeto europeu e da zona euro, irão confrontar-se com a pequena grande história
das noites longas e duras de negociação, de empurrar as coisas com a barriga
para a frente, de pequenos avanços, da instabilidade segue dentro de momentos,
do por agora estamos safos, depois veremos.
Ontem,
segundo relatos do meu fiel Financial Times, foi mais uma longa e dura noite
para se conseguir um acordo que prepare as condições para o fim do resgate da
economia grega, designadamente a data de 2023 para repagamento dos empréstimos recebidos
por via do resgate financeiro. Ninguém é capaz ao certo de afirmar se a cada
vez mais reduzida margem de manobra política de Ângela Merkel no plano interno terá
ou não sido repercutida na dureza das negociações. Mas pelos relatos que foi
possível reunir sobre o andamento das negociações. Não serei tão afirmativo
como o Comissário Moscovici que proclamava ontem que a crise grega acabou
naquela noite histórica no Luxemburgo. O diferimento por 10 anos do pagamento de
cerca de 40% do total da dívida grega, algo pelos cem mil milhões, constitui um
alívio temporal para a sustentabilidade da divida grega, completado pelo
aumento de reservas para os próximos 22 meses e pelo reenvio para a Grécia de
uma parte dos lucros obtidos pelos bancos centrais da zona euro com a posse de dívida
grega.
Entretanto, credores,
credores negócios à parte e a economia grega terá de manter nos próximos anos
excedentes orçamentais primários (isto é sem pagamento de juros da dívida) de
cerca de 3,5% do PIB, uma brutalidade, tendendo a 30-40 anos a manter-se
positivos em redor dos 20%. O que significa que a margem de manobra orçamental
dos futuros governos gregos está reduzida ao mínimo, obrigando a uma criteriosa
combinação de escolhas públicas, completado ou não pelo afluxo de investimento direto
estrangeiro, isso veremos.
Até à próxima
perturbação, tudo continuará como dantes, baralharam-se as cartas, mas o jogo
continua. Afinal, já se concluiu que o edifício do Euro não está preparado para
grandes pressões. Assim, sem reparar os alicerces e as bases da construção, o
melhor é ir evitando as tais pressões desmesuradas, de noite em noite, de
negociação em negociação e Mário Centeno lá terá mais evidência para as suas
memórias.
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