sexta-feira, 1 de junho de 2018

MARIANO SE FUÉ. VOLVERÁ?



(Inventem o que quiserem, governo Frankestein, geringonça à la nacionalista, outras do género, mas a verdade é que a dinâmica parlamentar em Espanha se limitou a expressar o sentimento maioritário dos espanhóis. Que Rivera e o CIUDADANOS se tenham cortado não querendo assumir as responsabilidades que o eleitorado potencial lhe concedia, disso o PSOE de Sánchez não tem culpa. Que a situação é de grande instabilidade, de acordo. Mas atribuir ao PSOE a responsabilidade por isso é grotesco.)

Foi com dignidade democrática que Mariano Rajoy aceitou no hemiciclo de Madrid a sua derrota, cumprimentou Sánchez e saiu de cena. Quem o imaginaria ainda até há bem pouco tempo? Penso que nem o próprio Rajoy inteligiu esse acontecimento como provável, esticando por isso a corda até romper.

Gostaria de ser mosca para compreender a sobremesa de muitas horas que Rajoy e o seu núcleo mais próximo (creio que Soraya de Santamaría não terá estado nesse almoço em restaurante próximo do Congresso de Deputados) teve na antecâmara da sua derrota.

Várias interrogações se perfilam no horizonte político imediato de Espanha. Primeiro, o que pode nestas condições um governo minoritário de Sánchez fazer: governar para salvar o coiro numas próximas eleições? Dar resposta a algumas ambições à esquerda? Pacificar o início de uma nova negociação sobre a questão territorial? Talvez tudo isso, trabalhar no duro e esperar por um Congresso de Deputados de agressividade máxima. Segundo, que guerra interna poderá estalar no PP? Terá Rajoy a lucidez de compreender que o PP necessita urgentemente de renovação de liderança, sobretudo de alguém o mais longe possível dos salpicos (hoje bátegas) incómodos de corrupção? Terceiro, qual é o verdadeiro CIUDADANOS que vai emergir? O da modernidade e de um espanholismo mais século XXI ou de um partido incapaz de refundar a direita em Espanha? Quarto, que comportamento vão ter as principais autonomias? Contribuir para uma gestão equilibrada da questão territorial, aproveitando a presença no poder do único partido que o pode assegurar enquanto ponte entre várias tendências de pensamento sobre a matéria em Espanha? Ou escacar ainda mais o que já está bastante frágil?

Incerteza que baste. De resto, a certeza de que tal como em Portugal não basta ganhar eleições para poder governar. A dinâmica parlamentar resultante de umas dadas eleições tem mais margem de manobra do que alguma vez pareceu e a atomização política é sinal dos tempos. Por isso, uma lição sai de tudo isto. Mesmo em casos de declínios eleitorais consumados a negociação democrática pode dar espaços inesperados aos que não beneficiam da paixão eleitoral. O que significa que são necessários nervos de aço e sobretudo assegurar a dignidade do trabalho parlamentar.

Sem comentários:

Enviar um comentário