sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FIM DE ANO



À medida que o fim de ano se aproxima, é natural que se ceda à tentação de tentar associar o ano que finda a algo de marcante, positivo ou negativo, gratificante ou penalizador, não importa.
A escolha não foi fácil. O que me ocorre salientar é que 2012 foi a confirmação da incerteza como fator condicionador das vidas da esmagadora maioria dos portugueses. Não é que a incerteza seja uma novidade absoluta. Diria antes, paradoxalmente, que a perspetiva da incerteza se tornar uma certeza marcou 2012.
Essa incerteza tem várias dimensões.
Em primeiro lugar, a perceção de que o síndroma do “GREXIT”(ainda não totalmente erradicado) nos pode alterar radicalmente a vida e colocar de pernas para o ar a nossa relação de devedores – credores a nível individual. Uma saída da Grécia do Euro anteciparia reações imprevisíveis e insondáveis. E a economia portuguesa estaria imediatamente na rampa seguinte. Em 2012, tivemos, assim, a confirmação de que a máquina do euro não foi nem concebida nem testada para grandes pressões. Daí que enquanto não for consertada (será possível?) teremos uma incerteza dinâmica e estrutural. Dinâmica porque reagirá a múltiplos fatores de agitação, entre os quais a inépcia dos candidatos a resolver as suas insuficiências. Estrutural porque decorre da sua conceção inacabada, ignorando os esforços que o mundo (com Keynes na linha da frente) realizou nos fins dos anos 40 para conceber um sistema monetário de moedas nacionais convertíveis.
Em segundo lugar, porque percebemos finalmente que o Estado não é pessoa de bem e que o nosso rendimento disponível (salários, pensões, sobretudo) pode experimentar a qualquer momento diminuições não anunciadas e que o desemprego é uma das certezas mais robustas para uma fração significativa de portugueses.
Em terceiro lugar, porque a incerteza se perfila nas vidas da grande maioria dos nossos filhos e netos, convidando-nos a uma valoração do momento a que não estávamos habituados.
Por todos estes motivos, 2012 ficará associado à consolidação estrutural da incerteza na sociedade portuguesa.
Motivos para um retorno a Augustina.

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