“The
show must go on”. É um facto, mas as diferentes personagens do governo de
Passos Coelho parecem flutuar em busca de um novo guião, mas fazem-no por
iniciativa própria, por conseguinte com guiões diferenciados, contraditórios, reveladores
da perda de rumo ou da desorientação do diretor de cena.
Senão vejamos. Paulo
Portas, com a pose do costume, veio a terreiro não apenas para CDS ouvir, mas
essencialmente para fora, proclamar ser ele no governo o principal adversário
do estado social mínimo. Não deixa de ser sintomático, quando o ministro da
Solidariedade Social (CDS) já deixou há muito de andar de lambreta e ser
conivente com toda a série de cortes sociais. Claro que umas horas depois, o ministro
da Defesa, Aguiar Branco, veio dizer que não senhor, todo o governo lutará até à
exaustão pela conservação do Estado Social, evidenciando desse modo a “coerência”
de pensamento. Noutro plano, o ministro Álvaro e a ministra Cristas dialogam
pelos jornais com azedume sobre a pretensa penalização que a legislação
ambiental tende a provocar na atração de investimento. Mas não foi a ministra
Cristas que tem aberto caminho a uma, tão desejada por alguns, simplificação
dos normativos ambientais, com a supressão, por exemplo, da reserva ecológica
nacional? Noutro registo, Jorge Moreira da Silva (PSD), a propósito do Relatório
para o Crescimento Sustentável, intervém e desanca no ministro Álvaro acerca da
sua liberalização ambiental. Noutro plano ainda, o ministro Álvaro atira para o
ar com o choque dos 10% de IRC para os novos investimentos. Mas o
primeiro-ministro arrefece o entusiasmo do recuperado Álvaro invocando o muro
da legislação comunitária. Finalmente, o fleumático Gaspar invoca numa sessão pública
qualquer o pensamento de Schumpeter para assinalar que o crescimento económico
português só poderá ser sustentado com uma profunda mudança do seu perfil de
especialização produtiva. Imagino que Gaspar tenha invocado Schumpeter para
recuperar o conceito de destruição criadora. O homem deve ter tido uma visão
anunciadora. O problema é que face à ausência de visão estratégica do governo
em matéria de política industrial e de crescimento, a destruição de base
produtiva imposta pela queda brutal da procura interna não é necessariamente
criadora, pois a afetação de recursos para os setores de nova geração produtiva
no país não está a acontecer. Schumpeter não será nunca guião para Gaspar.
“The show goes on”. Mas o enredo é trágico. Além disso, Seguro, no
PS, não convence minimamente ninguém que está em condições e interessado em ser
alternativa política a curto prazo. Quem o tem ouvido mais de perto e fora do
alcance da comunicação social, o que não é o meu caso, diz que o seu discurso
aponta para outros timings. Por isso,
aquele assomo de dizer que está preparado para eleições antecipadas é mesmo a
contra gosto.
O diretor de cena
perdeu o rumo, mas não se divisa alternativa.
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