sábado, 15 de dezembro de 2012

DISCURSOS CRUZADOS



The show must go on”. É um facto, mas as diferentes personagens do governo de Passos Coelho parecem flutuar em busca de um novo guião, mas fazem-no por iniciativa própria, por conseguinte com guiões diferenciados, contraditórios, reveladores da perda de rumo ou da desorientação do diretor de cena.
Senão vejamos. Paulo Portas, com a pose do costume, veio a terreiro não apenas para CDS ouvir, mas essencialmente para fora, proclamar ser ele no governo o principal adversário do estado social mínimo. Não deixa de ser sintomático, quando o ministro da Solidariedade Social (CDS) já deixou há muito de andar de lambreta e ser conivente com toda a série de cortes sociais. Claro que umas horas depois, o ministro da Defesa, Aguiar Branco, veio dizer que não senhor, todo o governo lutará até à exaustão pela conservação do Estado Social, evidenciando desse modo a “coerência” de pensamento. Noutro plano, o ministro Álvaro e a ministra Cristas dialogam pelos jornais com azedume sobre a pretensa penalização que a legislação ambiental tende a provocar na atração de investimento. Mas não foi a ministra Cristas que tem aberto caminho a uma, tão desejada por alguns, simplificação dos normativos ambientais, com a supressão, por exemplo, da reserva ecológica nacional? Noutro registo, Jorge Moreira da Silva (PSD), a propósito do Relatório para o Crescimento Sustentável, intervém e desanca no ministro Álvaro acerca da sua liberalização ambiental. Noutro plano ainda, o ministro Álvaro atira para o ar com o choque dos 10% de IRC para os novos investimentos. Mas o primeiro-ministro arrefece o entusiasmo do recuperado Álvaro invocando o muro da legislação comunitária. Finalmente, o fleumático Gaspar invoca numa sessão pública qualquer o pensamento de Schumpeter para assinalar que o crescimento económico português só poderá ser sustentado com uma profunda mudança do seu perfil de especialização produtiva. Imagino que Gaspar tenha invocado Schumpeter para recuperar o conceito de destruição criadora. O homem deve ter tido uma visão anunciadora. O problema é que face à ausência de visão estratégica do governo em matéria de política industrial e de crescimento, a destruição de base produtiva imposta pela queda brutal da procura interna não é necessariamente criadora, pois a afetação de recursos para os setores de nova geração produtiva no país não está a acontecer. Schumpeter não será nunca guião para Gaspar.
The show goes on”. Mas o enredo é trágico. Além disso, Seguro, no PS, não convence minimamente ninguém que está em condições e interessado em ser alternativa política a curto prazo. Quem o tem ouvido mais de perto e fora do alcance da comunicação social, o que não é o meu caso, diz que o seu discurso aponta para outros timings. Por isso, aquele assomo de dizer que está preparado para eleições antecipadas é mesmo a contra gosto.
O diretor de cena perdeu o rumo, mas não se divisa alternativa.

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