Nada como uma viagenzinha de táxi para medir
o pulso à situação e aquilatar a terrível realidade que nos rodeia. O motorista
que ontem me calhou em sorte abriu as hostilidades olhando pela janela da
viatura e produzindo um lamento (“ninguém nas ruas…”), prosseguiu com uma
constatação lapalissiana (“há sempre dois lados, o deve e o haver…”), avançou
uma interrogação lógica (“havia uns restaurantes com o seu movimento e os seus
empregados, aumentaram-lhes o IVA, muitos restaurantes fecharam, o desemprego
aumentou, a receita do imposto diminuiu; então não teria sido melhor para todos
não terem mexido no que estava?”), deu uns toques básicos de estratégia (“isto
tem estado a viver cada vez mais dos turistas, que passam por aí dois ou três
dias e fazem girar algum dinheiro, mas por este andar qualquer dia já nem têm
lugares onde gastar…”) e terminou com um desabafo entre o conformado e o
desafiante (“eles estão a fazer tudo para isto acabar, não sei é se o pessoal
vai deixar…”). Cristalino!
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