sábado, 29 de dezembro de 2012

A SERENIDADE DE TÁVORA



Fim de festa em Guimarães, Capital Europeia da Cultura. Sexta-feira, 28 de Dezembro, cidade ainda fervilhante apesar do fim anunciado. Estará a aposta ganha?
Oportunidade para visitar a Exposição Fernando Távora – Modernidade Permanente.
Fim de tarde húmido, mas aconchegado e não agressivo. Sinal dos tempos. O campus da Universidade do Minho em Guimarães aberto, nenhum sinal aparente de segurança, cancelas de acesso das viaturas levantadas, campus praticamente deserto, um laboratório ou outro com luz, alguns (poucos) praticantes de jogging na bela envolvente deste espaço. Lá ao fundo, em cima e à esquerda, luz no Edifício da Escola de Arquitetura, ele próprio um projeto de Fernando Távora e de seu filho J.B. Távora, acolhendo a exposição “Fernando Távora - Modernidade Permanente”.
Feliz harmonia entre o conforto depurado do edifício e a serenidade eloquente que transparece de todo aquele material. Como era diferente esta geração da arquitetura que lançou as primeiras pedras do que alguns ainda teimam em classificar de A Escola do Porto. A sobriedade serena e eloquente do seu traço, a sua mundividência feita de encontros com os grandes arquitetos da época (bolsa Fundação Calouste Gulbenkian), fundamentais para conceber e consolidar a sua própria modernidade. Em fotografias da exposição, nomes conhecidos, muito jovens ainda, ilustrações de cumplicidades, afetos e influências: Mestre Carlos Ramos, Lanhas, Pedro Ramalho, Alexandre Alves Costa, Nadir Afonso e muitos mais.
Mas para um leigo da arquitetura, embora sensorialmente tocado por ela, numa sala de aulas belíssima, um pequeno anfiteatro quase um quadrado em que o mestre ocupa não um lugar acima do auditório mas pelo contrário ao mesmo nível ou a um nível inferior, um conjunto de vídeos recupera algumas aulas do Arquiteto. E perante uns minutos de visualização desse material, emerge a figura do Mestre, crescentemente perdida nas nossas Universidades e que para as artes continua a ser o epicentro de toda a prática pedagógica.
A serenidade do Mestre reconfortou-me o fim de tarde.

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