Há dias em que o
trabalho compensa, possibilitando-nos o contacto com personalidades com que
sempre ambicionámos falar, retribuindo muito do esforço inglório que por vezes
esse mesmo trabalho nos implica.
Jan Fagerberg é um
desses casos. Jan é hoje um dos economistas da inovação mais representativos da
geração atual de economistas que trabalham a economia do knowledge e as suas relações com a tecnologia, a competitividade,
tendo em conta os diferentes estádios em que os países se encontram do ponto de
vista que os separa da fronteira tecnológica. Para um país como Portugal que
busca a sua própria trajetória de desenvolvimento tecnológico para reformular
os seus padrões de crescimento económico, os contributos de Jan Fagerberg são
preciosos para nos ajudar a formatar políticas públicas que estimulem essas
novas trajetórias.
A reunião de hoje, em
Lisboa, largamente potenciada pelos professores Mira Godinho (ISEG) e Sandro
Mendonça (ISCTE) que estão a colaborar comigo no estudo de avaliação dos
contributos do QREN para a melhoria das performances de inovação e da
internacionalização da economia portuguesa, confirmou a sensibilidade de Jan
Fagerberg sobre os longos tempos de maturação dos processos de inovação e
internacionalização nas empresas. A razão principal para a longa maturação
desses processos tem que ver com a acumulação de conhecimento que os avanços
empresariais nessas matérias exigem.
Jan Fagerberg é também
um exemplo bem ilustrativo da circulação da produção de conhecimento nessas matérias.
Presentemente, reparte o seu tempo entre as universidades de Oslo (Noruega), de
Aalborg na Dinamarca e de Lund na Suécia, fazendo uma espécie de circuito
escandinavo num domínio em que estes países têm feito avançar
Do ponto de vista da
inovação, estão em causa as mediações organizacionais que a inovação requer, a
criação de novas rotinas, a acumulação de competências individuais e coletivas
que a inovação suscita. Todos esses fenómenos são espessos, exigem maturação,
aprendizagem, persistência dos investimentos.
No que respeita à
internacionalização, estão em causa os processos de acumulação de conhecimento
sobre os mercados externos, a adaptação dos processos de comercialização e
marketing aos mercados de nova implantação e às suas especificidades culturais
e administrativas, por vezes imbricadas e difíceis de discernir. Para além
disso, estão também em causa os processos individuais e coletivos (na empresa)
de acumulação de competências que o conhecimento desses mercados exige. Tudo
isto exige tempo, duração, espessura.
Esta conceção do tempo
necessário à acumulação de conhecimento e às mudanças organizacionais que a
inovação e a exploração de novos mercados é totalmente incompatível com o
conceito ligeiro de reformas estruturais que as receitas europeias emanadas da
Comissão Europeia e do BCE têm vindo a propagandear.
É também crucial para
bem avaliar os impactos de instrumentos de política pública focados na promoção
da inovação e da internacionalização das empresas, consagrando o tempo necessário
para observar se se produziram de facto as maturações necessárias a tais
efeitos.
Duas horas preciosas de
reunião, roubando uma manhã ao precioso tempo de Fagerberg, sem tempo para gozar a sua casa em Portugal, em Carcavelos, mas com a convicção
de que temos o interlocutor certo para nos ajudar nesta empresa da avaliação.
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