segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

ENTRE DOIS FOGOS QUE NÃO SE RECOMENDAM



Domingo de trabalho intenso, em torno da avaliação estratégica do QREN nas componentes da inovação e internacionalização, uma das matérias profissionais que mais me interessa e que me faz recordar alguma da investigação realizada em torno dos temas da economia da inovação e do conhecimento.
Pouco tempo pois para investir na vasta informação do fim de semana.
A reflexão que aqui trago hoje, já na transição para uma nova semana, foi suscitada pela passagem dominical de princípio da noite de Marcelo Rebelo de Sousa pela TVI, com a sempre reverente e pouco incisiva Judite de Sousa a completar o quadro.
Entre outras matérias sem grande relevância, vale a pena registar o comentário do Professor de verbo fácil sobre duas das posições mais recentes sobre a questão do Estado Social, mínimo, refundado ou conservado em redoma para peregrinos verem. Cito-as aqui porque em meu entender não se recomendam. Introduzem ruído perturbador para uma discussão que um dia destes os portugueses vão ter der fazer.
De um lado do extremo destas posições, podemos situar a posição de Passos Coelho nas suas mais recentes alocuções, designadamente ao Congresso da JSD. Apoiada em mistificações históricas, ou melhor por um completo desconhecimento da história que esta nova geração de políticos “jotistas” alegremente evidencia, a posição destes novos peregrinos é lançar a suspeição sobre a possibilidade do Estado Social ter representado uma forma de proteção enviesada, essencialmente favorecedora da classe média, por isso com necessidade de intervenções corretoras para combater esses potenciais monopólios de benefício. Esta gente sem dimensão histórica de pensamento, por isso  mesmo de plástico e utilitaristas, confunde elementos de avaliação do caráter distributivo das políticas sociais em concreto (por vezes não tão redistributivo como isso) com as condições estruturais que transformaram o Estado Social numa grande conquista do século XX. Uma simples leitura da obra de Tony Judt daria alguma luz a cérebros tão pouco iluminados.
No outro extremo, a esquerda Soarista e algum radicalismo do tipo CGTP estica a corda e começa a fazer comparações com o antes do 25 de Abril, erguendo de novo a esperança de uma abordagem frentista à superação de tudo isto. O inseguro Seguro, para além de matar a herança de Sócrates e partir para outra, ainda terá à perna as diatribes de Soares, cujo eco é proporcional ao vazio de proposta das próprias ideias de Seguro.
Ambos os fogos não se recomendam. O combate do vazio de pensamento histórico dos “jotistas” e “operacionais” tipo Relvas (que os há também no PS, claro está) que ascenderam ao poder não se concretiza por uma invocação retórica do antes do 25 de Abril, com comparações não contextualizadas.
Quem se deixar apanhar entre estes dois fogos queimar-se-á por certo. Não serão os oitenta e muitos anos de Soares que me farão esquecer o espírito crítico necessário para combater estas derivas. Um contra-fogo (técnica sempre perigosa) será necessário.

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