domingo, 2 de dezembro de 2012

REFORMISTA VERSUS RADICAL?


O “Quadratura do Círculo” desta semana tratou largamente do Orçamento de Estado e da controvérsia em torno das suas eventuais feridas de inconstitucionalidade. Teve, a meu ver, três momentos especialmente dignos de registo. O primeiro é resumível numa questão essencial deixada no ar por António Costa: “Uma das coisas mais curiosas que a História há de um dia explicar é como é que uma crise financeira se converteu numa crise das dívidas soberanas”. Têmo-la tratado assiduamente neste espaço, mas será da máxima pertinência que procuremos prosseguir na sua dissecação e clarificação.


O segundo momento decorreu da leitura da situação política longamente desenvolvida por Pacheco Pereira. Tento seguidamente sintetizá-la numa dúzia de curtos tópicos:

·         A recente aprovação de um orçamento “inexequível”.

·         Um orçamento que vai ser um “fator de perturbação política profunda” e ameaçar seriamente “a própria sobrevivência do Governo”.

·         Um orçamento com “uma solução unanimemente criticada, até por uma parte da Troika”.

·         “Quando este orçamento cair em cima das pessoas, as pessoas vão deixar de ter vida económica”.

·         “O que o primeiro-ministro anunciou na entrevista é um novo pacote de austeridade, não tem outro nome, não adianta virem com tretas sobre a refundação do Estado”.

·         “Este programa só se percebe se o seu sujeito for outro, para além deste Governo”.

·         A exemplificação com um banco alemão que tenha emprestado dinheiro a Portugal e que, compreensivelmente, quer receber esse dinheiro: ele “está-se absolutamente marimbando (…) sobre como é que os portugueses vivem ou não vivem (…), ele quer que o país tenha excedentes para poder pagar a dívida”.

·         A ideia de que, à pura necessidade do banco, se acrescenta uma “dimensão política”, da senhora Merkel à Europa.

·         “Este discurso político não vê a gravidade da situação” e corresponde a uma política que “tem um único objetivo, que é garantir que nós tenhamos dinheiro para pagar as dívidas”.

·         “Nós estamos no mesmo caminho da Grécia com um atraso de um ano ou dois”.

·         A explicitação de que este plano não tem lógica económica, social, política, portuguesa, nem sequer uma verdadeira lógica ideológica – ele só se percebe “da necessidade do sistema financeiro que se lhe pague”, “uma lógica pura de credor”.

·         “E como os credores estão representados ao mais alto nível pelo primeiro-ministro – que anda um bocado a ver navios nesta coisa, mas que incorporou esta realidade e não tem outra – e o ministro das Finanças – que a incorpora inteiramente –, isto vai dar torto”…


O terceiro momento que selecionei nasce das críticas contundentes de Pacheco Pereira ao Partido Socialista, designadamente “frouxo” e “sem nexo” enquanto oposição. Ao que António Costa reagiu com graça, nestes termos: “Eu não posso acompanhar, obviamente, o Pacheco Pereira nos termos em que ele costuma falar sobre o PS. Mas há aqui uma diferença de fundo entre nós: é que o Pacheco Pereira é estruturalmente um radical e eu, de facto, sou estruturalmente um reformista.” Muito bom!

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