A transmissão de pensamento ocorreu já
vezes demais entre mim e o António Figueiredo para que possa levá-la à conta de
mera coincidência. A última de que me apercebi terá ocorrido na passada
sexta-feira quando ambos lemos no “Público” o artigo de Maria Filomena Mónica (MFM)
a respeito de Boaventura Sousa Santos (BSS), “O evangelizador de Coimbra”.
Cheguei a escrever alguns parágrafos de
comentário sobre o dito, mas acabei por adiar alguns retoques finais e assim fui
temporalmente ultrapassado pelo meu parceiro de blogue. Ainda bem, porque todos
ficamos a ganhar com o “Oxalá haja polémica…” com que no sábado nos brindou a
propósito. Subscrevendo o essencial da opinião e das impressões mais subjetivas
expendidas nesse post, apenas volto ao assunto para duas curtas achegas pessoais
a respeito dos protagonistas e suas posições. Não sem manifestar o devido
respeito pela qualidade de componentes diversas do imenso trabalho intelectual
que têm a seu crédito.
Passo a sintetizar, sem mais delongas, o
meu ponto de vista essencial de que estamos perante dois tipos de abordagem que,
apesar de aparentemente opostos, se revelam largamente convergentes a nível dos
danos que provocam nas nossas já tão empobrecidas ciências sociais. Uma porque,
incandescida por um individualismo mais egocêntrico do que metodológico e por
um reverencial provincianismo anglo-saxónico, nos fala de “busca” e de “paixão”
pela “verdade” e pelo “saber” para sustentar uma simplória rejeição de
quaisquer categorias analíticas passíveis de manipulação. O outro porque, centrado
numa vaidosa construção heterodoxa – tão cuidadosamente urdida quanto forçadamente
artificial – e alimentado por uma eficaz rede de seguidores a mando, nos fala
de “debates epistemológicos contemporâneos” para produzir retóricas populistas
e desenvolver vulgatas inconsequentes.
Toda a polémica será naturalmente benvinda,
embora as expectativas não sejam as mais altas – é que também este é um domínio
em que não vivemos dias felizes…
Sem comentários:
Enviar um comentário