O Rui Tavares antecipou-se, mas foi também uma oportunidade para dar conta que,
paradoxalmente, na morte de Albert Otto Hirschman, há mais fervorosos
seguidores da obra e do pensamento de um dos inspiradores deste blogue.
Uma
longa vida, 97 anos, desde a saída da Alemanha nazi até à aplicação da sua
heterodoxia de pensamento, sobretudo na América Latina, Colômbia em particular.
Hirschman foi um dos primeiros a compreender o não determinismo dos processos
de desenvolvimento e a identificar as hoje famosas “sequencias al revés” que
poderemos traduzir por “sequências não canónicas”. A partir dessa intuição e da
prática de humildade intelectual de largar todos os preconceitos teóricos e
conceptuais que transportava na sua bagagem para compreender aquelas sociedades
no momento histórico em que buscavam a sua superação, plasmada no eterno “The
Strategy of Economic Development”, a obra de Hirschman é um monumento de
permanente busca de uma economia capaz de dialogar frutuosamente com as ciências
sociais.
A
descoberta de Rui Tavares aconteceu a partir do Passions and Interests. A minha processou-se através do Strategy of Economic Development, do Exit, Voice and Loyalty no âmbito do
qual muitos dos avanços e recuos da participação pública na sociedade e nas
organizações pode ser compreendida e de uma incontornável análise do comércio
externo nazi como instrumento de poder e dominação à escala mundial (já aqui
tratada neste blogue).
Há várias
obras que me têm permitido manter uma relação de autoestima com a profissão e
com a ciência económica. A obra de Hirschman é uma delas. Estou certo que a uma
longa vida de 97 anos vai suceder-se uma mais que longa vida do seu pensamento
e das suas ideias. O que também será um forte e retribuidor estímulo para que
este blogue, haja forças para isso, tenha também uma longa vida.
Vou
digitalizar uma carta que tenho em meu poder com o punho de Albert Otto
Hirschman em que ele agradece o envio da antologia de subdesenvolvimento de que
sou autor em colaboração com o meu amigo Carlos S. Costa, agora em funções no
Banco de Portugal.
Sempre é
uma forma de homenagear uma personalidade tão forte, por nós trazida para o
pensamento português bem antes do Honoris Causa da Faculdade de Economia de
Coimbra em Abril de 1993.
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