(Fotografia de Michelle V. Agins para o New York Times)
Tenho para
mim que as grandes tendências que atravessam os mercados imobiliários
prenunciam frequentemente mudanças decisivas na vida urbana, na maneira como
nos relacionamos com a Cidade, explicando entre outras coisas a maneira como
nos movemos no território, afinal um dos direitos inalienáveis que a democracia
nos concede.
Como é óbvio,
quanto mais evoluídas forem os modelos urbanos mais essas tendências antecipam
as ondas da mudança.
Esta reflexão inicial é sugerida por um artigo de Robin Finn publicado na edição eletrónica do New York Times de 21.12.2012 e na edição impressa de 23.12.2012, com o título
“A Última Amenidade: os Avós” (The
Ultimate Amenity: Grandparents).
O artigo não é
totalmente explícito, mas em princípio o campo de observação da tendência assinalada
respeita essencialmente ao mercado imobiliário da grande aglomeração
nova-iorquina, isto é, não apenas Manhattan. A tendência consiste no facto
recente de pais e avós procurarem residências mais próximas, seja essencialmente
por iniciativa dos primeiros, para que avós e netos (havendo-os) partilhem uma
maior proximidade. Numa expressão feliz de uma promotora imobiliária citada
pelo artigo: “A situação win-win acontece
com os pais a viverem perto, mas não conjuntamente” ou ainda “Perto, mas não demasiado perto”.
Quer isto
significar que a situação reflete alterações socioeconómicas relevantes por
parte dos filhos e uma mudança assinalável nas condições de mobilidade das famílias
americanas.
Dei comigo a
pensar que a sociedade portuguesa terá antecipado algumas destas tendências e
que para mal das nossas penas estaremos neste momento a destrui-las uma após
outra. A diáspora forçada a que os jovens mais qualificados estão a ser
condenados destruirá para sempre esses laços. Estaremos condenados a permanecer
atrasados, ou seja a perseguir as trajetórias e modelos que outros já seguiram.
É assim que somos presentemente cobaias para programas de ajustamento que já
deram o berro noutras paragens. Foi assim que aqui foram experimentadas soluções
atamancadas do “new public management”
na gestão de serviços públicos quando essas formas de gestão pública estão hoje
essencialmente desacreditadas e já não são o que eram. É assim com as
privatizações de certos serviços públicos que se revelaram noutros países
ruinosas para a qualidade do serviço, por exemplo os transportes ferroviários
urbanos. Será provavelmente assim com a reforma da escola pública. Um
fatalismo? Inépcia das ideias nativas? Ainda e sempre o mito do desenvolvimento
histórico linear! A ilusão ruinosa de que todos devem percorrer o mesmo
caminho. Simplesmente trágico.
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