quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

SEMPRE ATRASADOS

(Fotografia de Michelle V. Agins para o New York Times)


Tenho para mim que as grandes tendências que atravessam os mercados imobiliários prenunciam frequentemente mudanças decisivas na vida urbana, na maneira como nos relacionamos com a Cidade, explicando entre outras coisas a maneira como nos movemos no território, afinal um dos direitos inalienáveis que a democracia nos concede.
Como é óbvio, quanto mais evoluídas forem os modelos urbanos mais essas tendências antecipam as ondas da mudança.
Esta reflexão inicial é sugerida por um artigo de Robin Finn publicado na edição eletrónica do New York Times de 21.12.2012 e na edição impressa de 23.12.2012, com o título “A Última Amenidade: os Avós” (The Ultimate Amenity: Grandparents).
O artigo não é totalmente explícito, mas em princípio o campo de observação da tendência assinalada respeita essencialmente ao mercado imobiliário da grande aglomeração nova-iorquina, isto é, não apenas Manhattan. A tendência consiste no facto recente de pais e avós procurarem residências mais próximas, seja essencialmente por iniciativa dos primeiros, para que avós e netos (havendo-os) partilhem uma maior proximidade. Numa expressão feliz de uma promotora imobiliária citada pelo artigo: “A situação win-win acontece com os pais a viverem perto, mas não conjuntamente” ou ainda “Perto, mas não demasiado perto”.
Quer isto significar que a situação reflete alterações socioeconómicas relevantes por parte dos filhos e uma mudança assinalável nas condições de mobilidade das famílias americanas.
Dei comigo a pensar que a sociedade portuguesa terá antecipado algumas destas tendências e que para mal das nossas penas estaremos neste momento a destrui-las uma após outra. A diáspora forçada a que os jovens mais qualificados estão a ser condenados destruirá para sempre esses laços. Estaremos condenados a permanecer atrasados, ou seja a perseguir as trajetórias e modelos que outros já seguiram. É assim que somos presentemente cobaias para programas de ajustamento que já deram o berro noutras paragens. Foi assim que aqui foram experimentadas soluções atamancadas do “new public management” na gestão de serviços públicos quando essas formas de gestão pública estão hoje essencialmente desacreditadas e já não são o que eram. É assim com as privatizações de certos serviços públicos que se revelaram noutros países ruinosas para a qualidade do serviço, por exemplo os transportes ferroviários urbanos. Será provavelmente assim com a reforma da escola pública. Um fatalismo? Inépcia das ideias nativas? Ainda e sempre o mito do desenvolvimento histórico linear! A ilusão ruinosa de que todos devem percorrer o mesmo caminho. Simplesmente trágico.

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