(João Abel Manta)
Diz-se, e é bem verdade, que de diagnósticos
está o mundo cheio e que precisamos é de quem traga soluções e seja capaz de as
implementar. Mas ainda sou dos que acreditam que sem um bom diagnóstico não há cura
possível – compreender para transformar, como dizia o velho homem das barbas – e
também que o facto de existirem muitos diagnósticos não implica necessariamente
a sua qualidade.
Vem isto a propósito da recente leitura
que fiz de um desses espécimes cada vez mais raros que é o diagnóstico lúcido e
assertivo. Foi no excelente número 2 da Revista “XXI, Ter Opinião” da Fundação
Francisco Manuel dos Santos e num artigo do já aqui referenciado José Manuel
Félix Ribeiro designado “Como recuperar a liberdade perdida”.
O autor interroga-se sobre as
principais escolhas que fizemos, nós Portugal, ao longo das últimas décadas e
que formataram por completo a economia portuguesa, trazendo-a até ao atual
condicionamento “troikista”. Elege sete, a saber:
1.
um “Estado social” assente no papel dominante do Estado na
prestação de serviços de ensino, saúde e cobertura de riscos individuais, assim
desvalorizando a alternativa de um co-financiamento público em função do
rendimento das famílias;
2.
uma gestão do processo de privatizações em moldes que contribuíram
para a aceleração do endividamento externo e objetivamente impediram a
consolidação de pólos empresariais privados internacionalmente sólidos;
3.
um sistema financeiro orientado para a quase total prevalência
de uma fragilizada intermediação bancária, assim fortemente limitado em termos
das oportunidades associadas a um desenvolvimento de investidores institucionais
e do mercado de capitais;
4.
um modelo de internacionalização mais centrado na projeção
internacional das grandes empresas dos sectores infraestruturais do que na
procura das parcerias internacionais mais adequadas;
5.
um modelo de utilização dos fundos estruturais comunitários
mais preocupado com as dinâmicas internas (redução de distâncias e PMEs) do que
com a competitividade internacional (conectividade e investimento estrangeiro);
6.
um modelo de administração do território que privilegiou um
nível municipal muito fragmentado e perversamente concorrencial em termos de
mecanismos de mercado e de retorno económico;
7.
uma aceitação precoce das exigências da União Económica e
Monetária e, consequentemente, uma adesão prematura ao Euro.
Cada um destes sete pontos, parecendo
largamente certeiro, é suscetível de levantar um mar de questões e de abrir um
enorme espaço ao debate. O que apenas decorre de o mundo não ser a preto e
branco. Mas isto vai tão pobre e cinzento que o surgimento de alguma polémica
seria uma remuneração muito gratificante para este post…
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