Ainda haverá quem retenha na memória a
referência a um valor de 7% para a taxa de juro da dívida pública como um número
mágico forçosamente desencadeador do resgate do País. Ora, muitos meses depois,
voltamos ontem a alcançar um nível abaixo desse limiar, dado que representa
obviamente uma boa notícia ao contribuir para a diminuição dos pagamentos a que
estamos obrigados junto dos nossos credores.
Mas tal facto é uma coisa e outra, bem
diferente, é atribui-lo sem mais ao Governo e à excelência da sua política
económica. A honestidade intelectual exigiria outro rigor. Vejamos:
(i) como explicita o “Jornal de
Negócios” ao dar aquela mesma informação, a quebra verificada provém maioritariamente
das reações dos mercados ao discurso de Mario Draghi de 26 de julho;
(ii) como explicitam em simultâneo
vários jornais europeus (acima o diário económico milanês “Il Sole 24 Ore”), as
taxas de juro italianas acabam de atingir um mínimo de dois anos e o euro está
em valorização face ao dólar;
(iii) como explicitam os gráficos de
abertura deste post (clicar sobre a imagem para melhor visualização), o comportamento do indicador em causa ao longo de 2012 é
da mesma natureza em toda a periferia europeia exceto Espanha (insisto em
designá-la como o caso mais bicudo da crise europeia) e as variações registadas
apresentam uma ordenação previsível (quebra das taxas gregas em dois terços,
das portuguesas em menos de 50% e das italianas em um terço).
Quer isto validar, portanto, a
pertinência da engenhosa síntese com que nos brinda o cartoon de Peter Schrank
(http://www.economist.com), aliás
também claramente oportuno em dia de anunciado fim do mundo: embora o fogo
esteja fortemente aceso, 2013 já está aí ao virar da esquina e o euro ainda
subsiste. Mas só isso e nada mais do que isso…
Sem comentários:
Enviar um comentário