As notícias que nos chegam de Itália são
estranhas e preocupantes mas não representam exatamente aquilo que à primeira vista parece
e que a maioria dos meios de comunicação prefere explorar. De facto, e como bem
ilustrou Emilio Giannelli no “Corriere della Sera”, a golpada de “Il Cavalieri”
fez regressar a crise política mas não irá trazer o regresso do respetivo autor
ao poder.
Não obstante, a dita golpada marca também
um momento culminante de vingança da política pura e dura (Berlusconi) contra a
tecnocracia (Monti) que a secundarizou largamente durante um ano. Assim a modos
que um “acabou o recreio, voltemos ao que importa”. O que Emilio Giannelli traduziu
de forma igualmente eloquente.
Há muito quem tenha considerado que
Monti foi, em conjunto com o outro Mario (Draghi), um agente central de viragem
na Zona Euro da segunda metade de 2012. Ao invés, há quem tenha sobretudo visto
em Monti um agente objetivo do interesse político de Merkel: protelar sem
grande afrontamento. Ambas as perspetivas, só aparentemente contraditórias, têm
a sua razão de ser. Em contraponto, uma outra coisa é clara: no plano interno, Monti
ajudou a anestesiar os problemas mas pouco resolveu de essencial (austeridade, tributação,
dívida pública, reformas).
Neste quadro, qual é, então, o meu ponto?
Em síntese, o de que a Itália se prepara para voltar à ribalta da crise
europeia (ver a imagem de abertura deste post, extraída de uma capa de há meses
no agora defunto “Financial Times Deutschland”). Por um lado, porque as eleições anunciadas
não permitem antecipar soluções renovadas (nem em termos de uma maioria estável
nem em termos de uma liderança eficaz) e, por outro lado, porque tenderá a prevalecer a
enorme e crescente debilidade da situação económica e social. Assim sendo, tudo se conjuga para que 2013
venha a ser um ano muito difícil para os lados de Roma…
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