(Público on line)
(Passos Coelho
sai de cena, não estou certo se totalmente consciente das razões que determinam
a sua derrota, e que o que
vai seguir-se vai ser, estou certo, animado, desejavelmente mais que o tom
tumular que se vivia na sala do Conselho Nacional, para televisão ver …)
A imagem divulgada em
alguns jornais da noite eleitoral de domingo, com Passos Coelho a sair sozinho
por uma porta, algures, após a assunção da derrota, anunciava simbolicamente a
saída de cena. Ela não foi anunciada na própria noite de domingo para preparar
as hostes internas e talvez conversar com os mais próximos. Seguramente que
essa avaliação já estava feita. O que não estou certo é que Passos tenha compreendido
as razões que conduziram à sua derrota e, pior do que isso, levaram o partido a
um estado lastimoso, qualquer que seja o sucessor.
Não percebo que raio de
estratégia comunicacional é esta de mostrar perante o país um Conselho Nacional
ainda perplexo, não com a saída de cena mas com os resultados eleitorais,
acabrunhado, qual rosto mais tenso. A própria salva de palmas que interrompeu a
comunicação de Passos já lá para o fim tem tudo de pouco convincente, porque
era necessário deixar uma mensagem qualquer ao líder que sai de cena. Para
momento motivacional de uma viragem, sabe-se lá em que direção e com que
espessura, o ambiente era mais de velório do que de início de nova vida.
Embora timidamente, para
não maçar o Conselho, Passos não resistiu a recordar os traços fundamentais do
seu pensamento, pelos quais, anuncia, que irá continuar a bater-se, não
rondando por aí, mas sempre que chamado a intervir por esse país fora. E no
meio da penosidade sofrida que a intervenção revestiu, e há que reconhecer que
o momento não seria fácil nem para o mais insensível, a negação começou por esta
pretensão de se tratar de um líder com pensamento estruturado. A valorização da
sociedade civil e da sua autonomia perante o estado teria sido um bom mote para
a saída de cena, mas rapidamente esse ponto que poderia ser fulcral se apagou na
sucessão de outros temas vagos e não diferenciadores, banais. Passos não terá
compreendido que falhou na não preparação atempada de uma resposta consistente ao
novo quadro político gerado pelo acordo parlamentar à esquerda e que mais grave
do que isso permaneceu em estado de negação à medida que o tempo inexorável da
melhoria da situação global do país prosseguia. É risível que pensamentos como
o de José Manuel Fernandes do Observador admitam que a história do tempo longo
lembrará um dia Passos Coelho. O que pode ser interessante analisar são as
condições (e aqui haverá ideólogos a considerar) que alimentaram em Passos a
ilusão que o ajustamento TROIKA era o contexto adequado para criar uma
sociedade nova, não transformando, mas fazendo tábua rasa das condições
concretas da sociedade portuguesa, apesar da penosidade do ajustamento.
Acabado o velório, vão
emergir as movimentações mais interessantes. Para já, hoje mesmo, bicadas
provenientes de diferentes bicos e com intensidade diversa sucederam-se com um
destinatário, Rui Rio. A direita do Observador, que tem na saída de cena de
Passos, uma derrota de grande expressão, bicava hoje na idade avançada dos “senadores”
que Rui Rio terá consultado no putativo jantar de Azeitão como um mau presságio
do que virá por aí em termos de projeto para o PSD. José Manuel Fernandes dava-se
ao luxo de até recordar as idades de Sá Carneiro, Cavaco Silva e Durão Barroso quando
chegaram à governação para mostrar que as primeiras filas do Conselho Nacional e
os senadores de Azeitão estavam demasiado envelhecidas para protagonizar uma
mudança. Mas o problema para direita do Observador é outro. Os Passos, os piu-piu
Maçães, os Lombas e outros que tais que ousaram aparecer à boleia do
ajustamento da Troika para disseminar a agenda liberal do novo país, liberto do
que entendem ser os arcaísmos a abater, desapareceram da circulação. O
Observador ancora hoje essa direita, zangada com a ausência de protagonistas e
com a derrocada do seu símbolo na governação.
Por isso, ou muito me
engano, ou Rio vai ter, não uma passadeira laranja para a sua entrada em jogo,
mas uma série de vespas a cruzar-se no seu caminho. Para já, Paulo Rangel tem pelo
menos um esboço de pensamento estruturado para animar o debate. Receio que o
espírito necessariamente defensivo do aparelho e as vespas saltitantes se
choquem, abafando o debate de ideias, em dois meses turbulentos. O próprio Rio é
pouco propenso a grandes elaborações de pensamento e está por avaliar a sua
entrada no voto urbano que não fala à Porto.
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