A incerteza dinâmica
passou a dominar a partir de hoje a questão catalã. Uma incerteza estrutural,
onde qualquer acontecimento imprevisto ou mal gerido pode constituir um
rastilho com consequências que ninguém é capaz de antecipar. A festa de uma
independência que pode não ser dominará as ruas durante algum tempo. Todos se
interrogam como é que o governo espanhol vai aplicar a decisão assumida por via
do artigo 155º que poucos se atrevem a afirmar como é que se aplica na prática.
O que vai ser na prática a destituição do Parlament e dos dirigentes políticos
da Generalitat é uma incógnita completa. O independentismo radical irá em busca
desesperada dos seus mártires, pois sabe que, num estado democrático, Puigdemont
não terá o mesmo destino que o franquismo que destruiu a República Federal
Espanhola (e que os catalães atraiçoaram, declarando a independência em 1934),
impôs a Companys (o fuzilamento). E há a outra profunda interrogação sobre as eleições
regionais convocadas para dezembro. O mais provável com o rumo dos acontecimentos
é haver um boicote total ou pelo menos parcial dessas eleições por parte dos partidos
independentistas. E, se assim for, teremos eleições sem representatividade. E a
incerteza seguirá dentro de momentos.
Se o momento histórico
do mundo e da Europa não fosse de gravidade extrema, com uma preocupante ignorância
da história e dos efeitos devastadores do nacionalismo desenfreado e da
atomização dos Estados, a Catalunha poderia ser um laboratório de pesquisa sobre
os efeitos de uma combinação explosiva entre radicalismo de má-fé e inépcia política
do centralismo. Mas o tempo não é de experiências.
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