sexta-feira, 27 de outubro de 2017

AI QUE DUI!





A incerteza dinâmica passou a dominar a partir de hoje a questão catalã. Uma incerteza estrutural, onde qualquer acontecimento imprevisto ou mal gerido pode constituir um rastilho com consequências que ninguém é capaz de antecipar. A festa de uma independência que pode não ser dominará as ruas durante algum tempo. Todos se interrogam como é que o governo espanhol vai aplicar a decisão assumida por via do artigo 155º que poucos se atrevem a afirmar como é que se aplica na prática. O que vai ser na prática a destituição do Parlament e dos dirigentes políticos da Generalitat é uma incógnita completa. O independentismo radical irá em busca desesperada dos seus mártires, pois sabe que, num estado democrático, Puigdemont não terá o mesmo destino que o franquismo que destruiu a República Federal Espanhola (e que os catalães atraiçoaram, declarando a independência em 1934), impôs a Companys (o fuzilamento). E há a outra profunda interrogação sobre as eleições regionais convocadas para dezembro. O mais provável com o rumo dos acontecimentos é haver um boicote total ou pelo menos parcial dessas eleições por parte dos partidos independentistas. E, se assim for, teremos eleições sem representatividade. E a incerteza seguirá dentro de momentos.

Se o momento histórico do mundo e da Europa não fosse de gravidade extrema, com uma preocupante ignorância da história e dos efeitos devastadores do nacionalismo desenfreado e da atomização dos Estados, a Catalunha poderia ser um laboratório de pesquisa sobre os efeitos de uma combinação explosiva entre radicalismo de má-fé e inépcia política do centralismo. Mas o tempo não é de experiências.

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