Neste fim de semana, enquanto
que o Girona, terra de Puigdemont, dava uma lição de humildade futebolística,
mas também de galhardia e querer, a um Real Madrid preso na armadilha da falta
de vontade e da inépcia, em Barcelona assistia-se a uma grande manifestação de
catalães que querem permanecer espanhóis. O espetáculo de Girona foi algo
bonito de se ver, com as gentes do futebol a separar as águas e a mostrar um grande
momento de convivência desportiva, renhida mas leal. A grande manifestação mostrou o que para mim era
evidente, o catalanismo não tem necessariamente de ser capturado, tem o direito
de aprofundar a sua autonomia dentro da lei e está acima de uma sôfrega
conquista de protagonismo suicida.
Por outras bandas o PODEMOS
de Iglésias tende para o esfrangalhamento. O líder já contestado procura fechar
o assunto com a tese de que o independentismo fracassou, mas a procissão ainda
vai no adro e a inorganicidade do PODEMOS vai revelar-se explosiva nos próximos
tempos. Quase me estatelei no chão ao ouvir Iglésias afirmar “Rajoy
por una vez tuvo reflejos y actuó de manera audaz “.
Nas bandas
independentistas, depois de ameaças de roturas, birras e ameaças, parece que
vingará a ideia de se submeterem as eleições para tentarem colocar o governo e
Rajoy num impasse desesperante. Não sei qual das alternativas seria pior do
ponto de vista dos seus interesses enviesados, se boicotar eleições, correndo o
risco de uma certa clandestinidade futura, se a elas concorrer aceitando no
fundo a decisão de Rajoy. Sobretudo a Esquerda Republicana de Junqueras jogará
forte para tentar colocar os radicais de extrema-esquerda em su sitio, mas nada
me garante que o independentismo até possa descer abaixo dos 40%.
Mas, no fim de tudo isto,
o facto mais significativo foi a ida de Puigdemont a Bruxelas, não se sabe ainda
se para proteção jurídica com advogado especializado, se para uma perspetiva de
asilo político, evitando a detenção em Espanha. Para mim, estamos perante um remake
fatela da história. Ou seja a pretensão de Puigdemont elevar-se ao Olimpo de líderes
históricos catalães que também procuraram asilo no exterior, nesse tempo de
alguém bastante mais destruidor do que um abananado PP, a ditadura franquista. O
remake consiste em tentar a analogia com líderes como Companys ou Tarradellas. Presunção
e água benta … Estamos num estádio supremo da história fake. Depois de a reescreverem muitas vezes deturpando a seu favor o sentido da história catalã, estariam eles próprios dispostos a protagonizar a última das últimas deturpações, assumindo-se líderes de uma dimensão que efetivamente não são, para penalização dos que neles depositaram o seu independentismo de boa-fé.
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