segunda-feira, 30 de outubro de 2017

UM REMAKE FATELA DA HISTÓRIA






Neste fim de semana, enquanto que o Girona, terra de Puigdemont, dava uma lição de humildade futebolística, mas também de galhardia e querer, a um Real Madrid preso na armadilha da falta de vontade e da inépcia, em Barcelona assistia-se a uma grande manifestação de catalães que querem permanecer espanhóis. O espetáculo de Girona foi algo bonito de se ver, com as gentes do futebol a separar as águas e a mostrar um grande momento de convivência desportiva, renhida mas leal. A grande manifestação mostrou o que para mim era evidente, o catalanismo não tem necessariamente de ser capturado, tem o direito de aprofundar a sua autonomia dentro da lei e está acima de uma sôfrega conquista de protagonismo suicida.

Por outras bandas o PODEMOS de Iglésias tende para o esfrangalhamento. O líder já contestado procura fechar o assunto com a tese de que o independentismo fracassou, mas a procissão ainda vai no adro e a inorganicidade do PODEMOS vai revelar-se explosiva nos próximos tempos. Quase me estatelei no chão ao ouvir Iglésias afirmar “Rajoy por una vez tuvo reflejos y actuó de manera audaz “.

Nas bandas independentistas, depois de ameaças de roturas, birras e ameaças, parece que vingará a ideia de se submeterem as eleições para tentarem colocar o governo e Rajoy num impasse desesperante. Não sei qual das alternativas seria pior do ponto de vista dos seus interesses enviesados, se boicotar eleições, correndo o risco de uma certa clandestinidade futura, se a elas concorrer aceitando no fundo a decisão de Rajoy. Sobretudo a Esquerda Republicana de Junqueras jogará forte para tentar colocar os radicais de extrema-esquerda em su sitio, mas nada me garante que o independentismo até possa descer abaixo dos 40%.

Mas, no fim de tudo isto, o facto mais significativo foi a ida de Puigdemont a Bruxelas, não se sabe ainda se para proteção jurídica com advogado especializado, se para uma perspetiva de asilo político, evitando a detenção em Espanha. Para mim, estamos perante um remake fatela da história. Ou seja a pretensão de Puigdemont elevar-se ao Olimpo de líderes históricos catalães que também procuraram asilo no exterior, nesse tempo de alguém bastante mais destruidor do que um abananado PP, a ditadura franquista. O remake consiste em tentar a analogia com líderes como Companys ou Tarradellas. Presunção e água benta … Estamos num estádio supremo da história fake. Depois de a reescreverem muitas vezes deturpando a seu favor o sentido da história catalã, estariam eles próprios dispostos a protagonizar a última das últimas deturpações, assumindo-se líderes de uma dimensão que efetivamente não são, para penalização dos que neles depositaram o seu independentismo de boa-fé.

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