Uma missão madrugadora
de trabalho a Vigo para começar a preparar, no âmbito do Eixo Atlântico, uma
nova edição do Fórum Viana sobre como Pensar a Cidade e dar sequência à obra
digital recém-editada sobre os Desafios da Governação das Cidades no século XXI
permitiu-me, de permeio com um “cortado” e uma “tostada”, um contacto mais
prolongado com a imprensa espanhola e galega.
Destaco do El País
um título: “A revolta contra a austeridade fiscal de Merkel cresce na Europa”.
O tema tem que se
lhe diga. É capaz de haver no seu enunciado algum triunfalismo excessivo
associado a uma eventual vitória de Hollande no dia 6 de Maio, que não é como o
Freire de Sousa bem o documentou segura, mas antes dependente de um puzzle bastante complexo, cuja
configuração será a meu ver dinâmica até ao dia 6. Talvez mais do que a própria
vitória de Hollande, seja a fratura total da direita francesa, que a votação de
Le Pen anuncia para os rounds seguintes, a suscitar fantasmas conhecidos. Mesmo
já perdidos na memória de alguns, os ditos quando redopiam de novo sob as
cabeças dos atónitos (um pouco hipócritas) governantes acabam por exercer
alguma influência pelo menos de circunstância.
Mas há mais. Agora
também Mário Draghi (BCE) vem reclamar um pacto de crescimento. Esta notícia
terá suscitado alguns sorrisos nos rostos de alguns socialistas que dirão, por
certo, nos próximos dias, algo de semelhante: Estão a ver até o “insuspeito” Mário
Draghi alinha com as teses do nosso secretário-geral. Ora, o problema é que
certamente o pacto de crescimento de Hollande não será o mesmo de Draghi e é
preciso que alguém comece a tecer isto tudo, urdindo alternativas que joguem no
máximo da transformação possível para a relação de forças hoje existente.
Mas não ficamos
por aqui. O vazio político na Holanda, longe de poder considerado uma
indisciplinada fiscal e, além disso, “bem considerada” pelos mercados, revela uma fragilidade
inesperada para satisfazer os 3% de défice exigido por Bruxelas. Ora este facto
é bastante novo e mete uma lança mais a norte, pondo a nu a inexequibilidade do
pacto fiscal com origem na Alemanha.
Romano Prodi, e
aqui já estamos a falar de social-democracia com forte ligação aos meios católicos,
não esteve com meias medidas e propõe que a França, a Itália e a Espanha trabalhem
em conjunto para relançar a Europa.
Na página inicial da edição digital do Financial Times, pode ler-se ainda um artigo de José Ignacio Torreblanca, diretor do escritório em Madrid do European Council of Foreign Relations: o título é nada mais nada menos do que "Time to say 'basta' to the nonsense of austerity". E termina assim: "A Europa é hoje uma Europa de assimetrias de poder e medo do futuro. Assemelha-se à descrição de Thomas Hobbes do homem em estado bruto: 'pobre, nojento, bruto e pequeno'. Dois anos passados e nem uma medida de crescimento foi adoptada. É tempo de dizer basta". Eloquente, curto e duro.
Na página inicial da edição digital do Financial Times, pode ler-se ainda um artigo de José Ignacio Torreblanca, diretor do escritório em Madrid do European Council of Foreign Relations: o título é nada mais nada menos do que "Time to say 'basta' to the nonsense of austerity". E termina assim: "A Europa é hoje uma Europa de assimetrias de poder e medo do futuro. Assemelha-se à descrição de Thomas Hobbes do homem em estado bruto: 'pobre, nojento, bruto e pequeno'. Dois anos passados e nem uma medida de crescimento foi adoptada. É tempo de dizer basta". Eloquente, curto e duro.
O que intuo estar
a acontecer é a existência de governos conservadores que esperavam uma
oportunidade para se manifestarem. Afinal, a sua convicção é que estarão “feitos
ao bife” se o populismo nacionalista continuar a ser acirrado pelo mito da
austeridade expansionista. Cameron resiste ideologicamente mas a comparação da
recessão atual no Reino Unido com a de 1930 coloca-o numa posição de grande
fragilidade (ver post anterior).
Na Alemanha, as
coisas também mexem. O IG Metall, um dos grandes sindicatos alemães, avança com
um número arrasador: mais de 8 milhões de pessoas ganham menos de 400 euros
(atenção aos recrutamentos para a Alemanha) e ameaçam com múltiplas greves se o
aumento de 6,5% não se produzir.
Onde reside então
a indeterminação?
A meu ver na
construção necessária de consensos para um modelo de crescimento ajustado ao
contexto atual, com atenção, pelo menos:
- Ao seu conteúdo em emprego e distributivo;
- À sua capacidade de alinhamento com setores que garantam uma nova expansão de ciclo longo;
- Certamente à revisão do modelo intervencionista com que a esquerda mais tradicional concebe esse crescimento;
- A uma regulação mais firme da globalização e sobretudo o estancar da “financialização” dos últimos tempos;
- A uma maior socialização das condições favoráveis ao incremento da fertilidade, na qual as empresas têm um papel crucial a desempenhar, garantindo à mulher e aos jovens casais condições de trabalho para tal.
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