Volto a trazer à colação o discurso presidencial deste 25 de Abril. Que alguns encararam muito criticamente, quer por comparação com a dureza do ano precedente (em que notoriamente quis empurrar Sócrates para fora do poder), quer pela lateralização dos efeitos sociais da crise profunda em que vivemos, quer ainda por quase mais parecer um presidente do AICEP a falar. Mas que outros avaliaram positivamente pelos seus aparentes objetivos de promover uma trégua na sociedade portuguesa e de contrariar os efeitos nefastos em termos de credibilidade que a intervenção externa necessariamente acarretou.
A questão para que aqui pretendo chamar a atenção centra-se
precisamente neste último ponto: é que, ao mesmo tempo que Cavaco vai descobrindo
a importância de valorizar a imagem do País (mesmo quando esquece que Saramago
existiu!), o seu governo encarrega-se de a ir subestimando ao mais alto nível e
nos mais escutados areópagos mediáticos. Seja o primeiro-ministro – veja-se o infeliz
artigo que fez publicar no “Financial Times” do passado dia 17 e onde escrevia
nomeadamente: “por demasiados anos, Portugal prosseguiu um caminho
irresponsável, de políticas e estruturas que falharam na promoção do
crescimento, que nos levaram à situação em que nos encontramos hoje” – seja o
ministro das Finanças – vejam-se as suas declarações ao “New York Times” do dia
23, marcadas por uma postura ideológica risivelmente vaidosa (“há algumas
limitações às intuições de Keynes”) e onde dizia nomeadamente que a sua política
económica é a abordagem adequada para “eliminar os enormes desequilíbrios que flagelaram
o país durantes anos” –, os dois devidamente irmanados nesse projeto de “salvação
nacional” que tão bem sabem explicar fora do País e em língua inglesa.
Um país irresponsável, um país falhado, um país
flagelado. Mas, ainda assim, um país inigualável a fazer sapatos e até chapéus…
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