No seu último post, Luís Carvalho já
chamou a atenção para a importância simbólica do encontro em Berlim do
Institute for New Economic Thinking (INET), organizado sob o tema Paradigm Lost:
Rethinking Economics and Politics.
E não se pense que estamos
perante uma organização de economistas radicais. Os quatro domínios de atuação
do INET são conhecidos e plurais: (i) Curricula: Lord Robert Skildelski (o
grande biógrafo de Keynes do qual comecei a devorar os três volumes) e Perry
Mehrling; (ii) Capital Humano e Oportunidades Económicas: James Heckman; (iii)
História do Pensamento Económico: Bruce Caldwell; (iv) História Económica:
Barry Eichengreen. Pluralidade, muita pluralidade, coisa que falta na ortodoxia
dominante.
O programa é simultaneamente
gigantesco e diversificado, envolvendo teoria económica e ciência política,
académicos e “practitioners”, tendo até a particularidade de conter uma
intervenção de António Damásio, neurocientista português da Universidade da Califórnia
do Sul.
Por hoje, gostaria de alertar os
mais interessados para a apresentação e para o paper do já aqui repetidas vezes
referido economista japonês Richard Koo do Nomura
Research Institute que tem vindo a sistematizar cada vez com maior
profundidade de informação empírica o que designa de recessão de balanço (balance sheet recession).
É sobretudo relevante a análise
comparativa sistemática que Koo realiza da situação vivida pela economia
japonesa com a atual situação económica mundial designadamente a europeia.
Afinal, o Japão constitui o exemplo mais representativo de depressão prolongada
que temos nos tempos mais recentes, com fenómenos claros de deflação e de
armadilha da liquidez.
O paper e a apresentação de Koo
em Berlim vão mais longe. Propõem uma das primeiras saídas para a crise do
euro, sem implicar o aprofundamento da união fiscal e muito menos a imposição
do tratado fiscal.
A abordagem de Koo parte da identificação de dois problemas macroeconómicos que conflituam entre si: alguma indisciplina fiscal que tende a situar decisivamente apenas no caso grego e um problema generalizado de desalavancagem do setor privado, resultantes da necessidade deste último minimizar o nível de vida de modo a reparar as imparidades causadas pelo colapso do preço dos activos na sequência das crises imobiliárias. O economista japonês continua a sustentar que a política monetária é nestas condições de taxas de juro próximas de zero inefetiva, com o argumento de quem quer regular imparidades não recorre ao crédito. E aqui aponta a experiência japonesa como aquela que traçou a direção certa: a única forma de evitar uma espiral deflacionária é serem os governos a pedirem emprestado e dispenderem o excesso de poupança privada, aliás como o fez o governo japonês.
O problema é que a resolução de ambos os problemas exige medidas conflituais: austeridade o primeiro, gasto fiscal o segundo.
Como resolver então o problema?
A abordagem parte da identificação de um outro problema que deve ser removido e que consiste nos fluxos de capitais que se desenvolvem hoje de países como a Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália em direção aos países financiadores. A proposta de Koo é simplesmente a de que só os cidadãos dos respetivos países devem ser autorizados a adquirir títulos da dívida pública nacional, limitando assim os próprios excessos despesistas.
No fundo, o que Koo propõe é uma moratória de suspensão da liberdade de circulação de capitais no que respeita apenas ao financiamento dos setores públicos, podendo o das empresas continuar a processar-se nos mesmos moldes. Parece-me que Koo tem razão ao desacreditar a reação de Bruxelas que invoca a anulação do princípio do mercado interno europeu como justificação da não aprovação desta situação. Mas é esse mercado interno que está em perigo com o atual descontrolo. A proposta do pacto fiscal responde ao primeiro problema macro, não resolve o segundo, antes o conduz a uma espiral deflacionária.
O pensamento económico liberta-se em Berlim.
A proposta de Richard Koo tem uma evidência empírica de suporte que é a economia japonesa e é um dos primeiros contributos para uma resolução do problema sem quebras ditatoriais de perda de soberania fiscal e política, o que prova que o pensamento económico não está esgotado.
E na apresentação até Portugal mereceu um slide, com a evidência de que também o setor privado aumentou massivamente a poupança após o eclodir da crise.
A abordagem de Koo parte da identificação de dois problemas macroeconómicos que conflituam entre si: alguma indisciplina fiscal que tende a situar decisivamente apenas no caso grego e um problema generalizado de desalavancagem do setor privado, resultantes da necessidade deste último minimizar o nível de vida de modo a reparar as imparidades causadas pelo colapso do preço dos activos na sequência das crises imobiliárias. O economista japonês continua a sustentar que a política monetária é nestas condições de taxas de juro próximas de zero inefetiva, com o argumento de quem quer regular imparidades não recorre ao crédito. E aqui aponta a experiência japonesa como aquela que traçou a direção certa: a única forma de evitar uma espiral deflacionária é serem os governos a pedirem emprestado e dispenderem o excesso de poupança privada, aliás como o fez o governo japonês.
O problema é que a resolução de ambos os problemas exige medidas conflituais: austeridade o primeiro, gasto fiscal o segundo.
Como resolver então o problema?
A abordagem parte da identificação de um outro problema que deve ser removido e que consiste nos fluxos de capitais que se desenvolvem hoje de países como a Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália em direção aos países financiadores. A proposta de Koo é simplesmente a de que só os cidadãos dos respetivos países devem ser autorizados a adquirir títulos da dívida pública nacional, limitando assim os próprios excessos despesistas.
No fundo, o que Koo propõe é uma moratória de suspensão da liberdade de circulação de capitais no que respeita apenas ao financiamento dos setores públicos, podendo o das empresas continuar a processar-se nos mesmos moldes. Parece-me que Koo tem razão ao desacreditar a reação de Bruxelas que invoca a anulação do princípio do mercado interno europeu como justificação da não aprovação desta situação. Mas é esse mercado interno que está em perigo com o atual descontrolo. A proposta do pacto fiscal responde ao primeiro problema macro, não resolve o segundo, antes o conduz a uma espiral deflacionária.
O pensamento económico liberta-se em Berlim.
A proposta de Richard Koo tem uma evidência empírica de suporte que é a economia japonesa e é um dos primeiros contributos para uma resolução do problema sem quebras ditatoriais de perda de soberania fiscal e política, o que prova que o pensamento económico não está esgotado.
E na apresentação até Portugal mereceu um slide, com a evidência de que também o setor privado aumentou massivamente a poupança após o eclodir da crise.
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