sexta-feira, 13 de abril de 2012

EURO-GRÁFICOS

No sítio do “Financial Times”, no quadro de um texto intitulado “Awful aftermath of eurozone break-up”, um vídeo do “Investment Editor” (James Mackintosh) contrapõe o seu entendimento de que seria efetivamente um “terrível resultado” aquele que adviria de uma “desintegração da Zona Euro” face à ideia otimista crescentemente apontada de que essa desintegração seria “a solução ótima” para a periferia da Zona Euro, num processo que se iniciaria com tais países a incumprirem/falirem, teria continuidade com o seu abandono da moeda única e se reabilitaria com a adoção de uma moeda nacional e respetiva desvalorização.

A questão releva da velha lógica de encarar a possibilidade de uso da desvalorização como uma resposta adequada às debilidades competitivas dos países. E o analista dá o exemplo de uma quebra de 18% da libra britânica relativamente aos seus parceiros comerciais nos passados cinco anos, claramente bem mais fácil de concretizar do que cortes salariais de montante equivalente – ou seja, de a desvalorização cambial corresponder a um medida politicamente mais bem tolerada do que a via da austeridade.

Mas Mackintosh também lembra que os benefícios de uma moeda fraca desaparecem com o tempo. Por um lado, porque a evidência internacional demonstra que as quedas cambiais acabam por vir a ser, a longo prazo, quase exatamente compensadas pela inflação. Por outro lado, porque a desvalorização tende normalmente a esbater pressões no sentido das reformas (e seus reflexos em termos de melhoria da produtividade), acabando por apenas proporcionar um alívio competitivo temporário. Com a agravante, num eventual pós-euro, de que os países em causa iriam estar demasiado preocupados com a captação de fundos, a reestruturação dos seus bancos e o controlo da inflação para darem prioridade àqueles necessários estímulos à produtividade.

O primeiro gráfico de apoio junta-se ao registo de elementos úteis aqui reunidos sobre a crise da Zona Euro. Ele permite ler a evolução das posições competitivas de um conjunto de países pertencentes àquela área monetária ao longo dos últimos vinte anos (antes e depois da criação do Euro, portanto, e tomando o ano fundador de 1999 por referência), usando como indicador desses comportamentos as respetivas taxas de câmbio reais efetivas (baseadas em custos unitários do trabalho na indústria transformadora).

Assim (clicar sobre o gráfico para melhor visualização): (i) a Espanha (côr rosa) e a Itália (côr verde clara) tornaram-se nitidamente menos competitivos após a sua adesão à moeda única (18% e 34%, respetivamente, apesar do registo de uma melhoria espanhola de 9% desde 2008); (ii) a Irlanda (côr verde escura) foi o único país que evidenciou ganhos de competitividade e é aquele que detém uma situação mais positiva em final de período (sobretudo após uma drástica melhoria nos últimos três anos); (iii) a Grécia (ausente do gráfico) não terá andado longe do mau desempenho dos piores e Portugal (côr azul) também conheceu uma degradação (embora de menor monta); (iv) ficam ainda visíveis os bons resultados competitivos (12%) da Alemanha (côr vermelha), muito em linha com os tão propalados esforços associados a práticas liberalizadoras e à introdução de diversas restrições no mercado laboral.

O segundo gráfico elucida a dimensão da divergência financeira na Zona Euro a partir dos “yields” de obrigações a 10 anos dos países periféricos e da França e Alemanha. A década que sucedeu ao lançamento do Euro (assinalado com a linha vertical) corresponde a um período irrepetível e explicativo de muitos malentendidos, enquanto o aspeto geral é semelhante antes do início do Euro e nestes últimos anos de crise, embora os “gaps” sejam agora significativamente maiores. Sendo que tais diferenciais funcionam como elementos de aproximação a uma avaliação probabilística da pulsão desintegradora em presença.

Não serão talvez extraordinariamente surpreendentes, mas estamos perante dois gráficos inquestionavelmente úteis na perspetiva de um contributo mais para a interpretação da história económica europeia recente…

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