Se havia dúvidas
que a candidatura de Hollande era tudo menos neutral e que o confronto entre
ele e Sarkosy não é, como Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu, uma questão de
escolher entre o menos mau, a capa de hoje do The Economist e o artigo, quase editorial, que a enquadra dissipa-as
completamente.
O título fala por
si: “O bastante perigoso senhor Hollande”. Nestas coisas de tomar posição e
afirmar a sua cartilha profundamente liberal, o Economist não engana ninguém, o que tem a virtude de melhor definir
os alvos das suas apreciações.
As razões do perigo
da sua candidatura decorrem, segundo a revista, do seu programa de governo para
a França e da alegada propensão desse programa para assegurar o reequilíbrio do
défice público mais à custa do incremento da receita fiscal do que através do
corte da despesa pública. Mas esse é o grau de liberdade que resta aos países
para afirmar a sua autonomia orçamental. Há aspetos do programa de Hollande que
exigem algum aprofundamento de discussão, sobretudo o seu anúncio do regresso
ao limiar dos 60 como idade de reforma, cuja racionalidade (?) requer mais
informação do que o programa fornece. Mas não me parece que a revista tenha razão
em afirmar que o programa de Hollande assenta numa perspetiva anti-empresarial.
O que parece resultar do enunciado dos 60 compromissos é antes uma atitude mais
severa contra a “financialização” da economia, o que não é de todo o
equivalente à tal atitude anti-empresarial.
A revista
reconhece que a eleição de Hollande imprimirá ao pacto fiscal alemão novos
reequilíbrios políticos, embora advirta para os perigos de uma rutura
franco-alemã neste momento da construção europeia. Mas a ideia de considerar no
artigo o governo português como um exemplo de governo reformista tem que se lhe
diga: reformista?
O Economist tem sempre o mérito de não
enganar ninguém. Mas tendo em conta que a política do pacto fiscal alemão tem
merecido da revista ampla crítica, não se entende bem qual a alternativa para
conseguir, sem ser pela via política, o reequilíbrio das exigências alemãs. A
senhora Merkel já mostrou que não é particularmente recetiva aos argumentos das
ideias, como o demonstra aliás a forma como tem ignorado os pareceres do
Conselho de “Advisors” do Governo alemão. Se o debate das ideias não chega, o
que é que o Economist proporia como
alternativa para reequilibrar as exigências alemãs?
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