A Igreja,
particularmente a mais jovem e não truculenta, costuma pesar bem as palavras, não
as profere à toa, ou pelo menos mede bem a mensagem que pretende transmitir. Hoje, bem cedo na TSF, fui surpreendido por uma tomada de posição da Pastoral do
Ensino Superior, que exerce a sua atividade sob a tutela da Conferência
Episcopal Portuguesa. Do próprio sítio web do Serviço Nacional da referida
Pastoral pode ler-se que: “A Pastoral do Ensino Superior tende a promover e
dinamizar, na variedade das suas expressões, tudo o que serve à realização do
diálogo e da síntese entre a fé e a cultura e está junto da comunidade
académica procurando facilitar esta experiência com todos - docentes, alunos, investigadores e
funcionários - aí presentes”.
Ora, para quem
pesa bem as palavras, falar de “atentado à democracia e justiça social” a propósito
dos efeitos da crise atual na desistência de inúmeros jovens do ensino superior
na sequência da forte deterioração da condição económica das famílias é pesado.
Afirmar na sequência da denúncia realizada que o ensino superior corre o sério
risco de se limitar às elites económicas é também pesado e consagra uma denúncia
sobre outra denúncia, qual delas a mais sensível. A dureza da comunicação
explica em parte a surpresa do Ministro Crato quando confrontado com a notícia.
Como sempre, com a
falta de rigor com que estas questões continuam a surgir no debate público,
apesar da proliferação de observatórios, não existe quantificação para este
problema. Mas a fazer fé no não sensacionalismo da Pastoral, a questão deve
estar a assumir proporções que justifiquem a tomada de posição.
Ora, se for assim,
há aqui matéria para uma flagrante contradição na mensagem governamental. De
facto, se a propósito do problema da dívida e da defesa da imposição alemã de
um limite ao défice público estrutural o argumento é sempre o da defesa das
gerações futuras, na temática do ensino superior e do próprio desemprego
juvenil parece vingar a defesa diametralmente oposta. Nos tempos que correm,
cercear o acesso de jovens ao ensino superior por meras questões de impacto da terapia
de austeridade constitui uma flagrante violação da proteção desta geração
jovem.
A sociedade
portuguesa não necessita apenas do esforço de qualificação em matéria de
capital humano avançado, designadamente no domínio das profissões científicas. Ela
necessita antes do mais de continuar sem hesitação o esforço de formação de
capital humano generalizado, designadamente através do incremento de população
jovem licenciada. Só nessas condições a sociedade portuguesa estará futuramente
apta a substituir uma larga fração de ativos não qualificados, mesmo que essa
transição seja longa.
E como dizia o Presidente Jorge Sampaio, também à TSF, a resposta ao problema denunciado pela
Pastoral do Ensino Superior exige escolhas públicas coerentes com a defesa de
um futuro. E como dizia Jorge Sampaio há tanta coisa que fura o muro das
restrições, muitas vezes sem uma relação tão determinante com esse futuro. É
nestas pequenas derivas de escolhas públicas que se compreende a perspetiva de
futuro indeterminado que se abate frequentemente sobre a população mais jovem.
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