Excelente artigo de Soledad Gallego-Diáz no
suplemento de domingo do El País.
Mariano Rajoy constitui hoje o efeito
colateral mais representativo de toda a embrulhada europeia em que estamos
metidos. A Presidência do Governo espanhol, com uma maioria sólida, um PS ainda
anestesiado pela violência do choque eleitoral e interno e com quatro anos à
sua frente sem o espectro de uma eleição, é talvez dos governantes europeus
mais acossados e inseguros e não necessariamente por razões que lhe possam ser
assacadas individualmente.
Com previsões de que a taxa de desemprego
possa atingir 27%, é de facto inacreditável como a Europa no seu todo olha para
este número como se não representasse uma situação de exceção, a exigir
obviamente medidas de exceção. Mas há dois números recentes que explicitam bem a
gravidade excecional do desequilíbrio no mercado de trabalho: de 2007 a 2012,
(i) o número de pessoas que desistiu de procurar trabalho passou de 155300 para
411800 e (ii) o número de trabalhadores a tempo parcial que o são porque não
encontraram trabalho a tempo inteiro passou de 725300 a 1416600. É, de facto,
necessário ser portador de uma miopia ideológica em estado avançado para
continuar a admitir que um mercado de trabalho neste estado de desequilíbrio
tem condições para se autocorrigir.
O que o artigo de Soledad Gallego Diáz tão
bem explicita é a patética situação de um Rajoy surpreendido pelo facto dos
mercados internacionais não revelarem sinais de compreenderem as sucessivas
medidas de corte fiscal que o governo espanhol tem aplicado, injustiçado pela
pressão a que os mesmos submetem hoje a economia espanhola. A manta começa a
ser curta. Sua Majestade não se lembrou de melhor oportunidade para exercer o
seu direito de pernada. O independentismo catalão, acossado pelos cortes
fiscais, ressurge com força e nem sequer um PS catalão alquebrado pela sucessão
interna no PS pode constituir um aliado nesse travão. A coordenação intergovernamental,
sobretudo ao nível das pastas económicas, já virou anedota. O nacionalismo
espanhol emerge ferido pelas diatribes nacionalistas de Cristina Fernandéz na
Argentina. Por conseguinte, uma situação pouco recomendável para um homem político
que não gosta de exposição pública e seguramente menos vaidoso que Aznar. Os
espanhóis, esses, atónitos, ainda não conseguiram compreender se a acomodação
de Rajoy aos efeitos colaterais da crise europeia é meramente de circunstância
ou se também veicula, como em Portugal, uma tentativa não escrutinada de mudança
radical de modelo económico e político, como por exemplo a alteração do quadro
das comunidades autónomas.
Sem comentários:
Enviar um comentário