segunda-feira, 30 de abril de 2012

A DESORIENTAÇÃO DE RAJOY



Excelente artigo de Soledad Gallego-Diáz no suplemento de domingo do El País.
Mariano Rajoy constitui hoje o efeito colateral mais representativo de toda a embrulhada europeia em que estamos metidos. A Presidência do Governo espanhol, com uma maioria sólida, um PS ainda anestesiado pela violência do choque eleitoral e interno e com quatro anos à sua frente sem o espectro de uma eleição, é talvez dos governantes europeus mais acossados e inseguros e não necessariamente por razões que lhe possam ser assacadas individualmente.
Com previsões de que a taxa de desemprego possa atingir 27%, é de facto inacreditável como a Europa no seu todo olha para este número como se não representasse uma situação de exceção, a exigir obviamente medidas de exceção. Mas há dois números recentes que explicitam bem a gravidade excecional do desequilíbrio no mercado de trabalho: de 2007 a 2012, (i) o número de pessoas que desistiu de procurar trabalho passou de 155300 para 411800 e (ii) o número de trabalhadores a tempo parcial que o são porque não encontraram trabalho a tempo inteiro passou de 725300 a 1416600. É, de facto, necessário ser portador de uma miopia ideológica em estado avançado para continuar a admitir que um mercado de trabalho neste estado de desequilíbrio tem condições para se autocorrigir.
O que o artigo de Soledad Gallego Diáz tão bem explicita é a patética situação de um Rajoy surpreendido pelo facto dos mercados internacionais não revelarem sinais de compreenderem as sucessivas medidas de corte fiscal que o governo espanhol tem aplicado, injustiçado pela pressão a que os mesmos submetem hoje a economia espanhola. A manta começa a ser curta. Sua Majestade não se lembrou de melhor oportunidade para exercer o seu direito de pernada. O independentismo catalão, acossado pelos cortes fiscais, ressurge com força e nem sequer um PS catalão alquebrado pela sucessão interna no PS pode constituir um aliado nesse travão. A coordenação intergovernamental, sobretudo ao nível das pastas económicas, já virou anedota. O nacionalismo espanhol emerge ferido pelas diatribes nacionalistas de Cristina Fernandéz na Argentina. Por conseguinte, uma situação pouco recomendável para um homem político que não gosta de exposição pública e seguramente menos vaidoso que Aznar. Os espanhóis, esses, atónitos, ainda não conseguiram compreender se a acomodação de Rajoy aos efeitos colaterais da crise europeia é meramente de circunstância ou se também veicula, como em Portugal, uma tentativa não escrutinada de mudança radical de modelo económico e político, como por exemplo a alteração do quadro das comunidades autónomas.

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