segunda-feira, 30 de abril de 2012

A HIPOCRISIA DE MERKEL



Bastou uma simples e não plenamente assegurada vitória de Hollande anunciada pelos resultados da 1ª volta das eleições francesas para que o “establishment” europeu tremesse e, um pouco gingão, começasse a falar de uma Agenda para o Crescimento. Primeiro, Mário Draghi preparou a audiência, qual “entertainer” que antecipa a entrada do artista principal. Ora, a artista principal, depois de entrar em palco declarando como inegociável o pacto fiscal, apressou-se a retomar a ideia da Agenda para o Crescimento e fê-lo, curiosamente ou talvez não, invocando uma ideia de Hollande que constitui em utilizar o Banco Europeu de Investimento para protagonizar um plano abrangente de modernização infraestrutural, de energia verde e de tecnologias avançadas.
Claro que nesta performance ninguém reparou no “pequeno” do sidecar (Sarkosy) que, com esta posição, fica numa situação complicada. A Grande Amiga afinal tira-lhe o tapete e até tem o topete de cobrir uma ideia do adversário político.
É claro que ninguém hoje ainda consegue compreender como é que este golpe de rins da desengonçada senhora Merkel é compatível com uma defesa tão feroz do pacto fiscal. E ainda como é que será possível injetar dinheiro no descapitalizado e ameaçado pela baixa de rating BEI, dinheiro esse que não foi possível ainda reunir para reforçar o firewall do Fundo de Estabilidade Financeira. Pelo que se vai ouvindo, os incorrigíveis de Bruxelas já estarão a pensar num esquema qualquer de engenharia financeira que bondosamente designam de imaginação para fazer as políticas de crescimento regressar, atraindo investimento privado. Não se entende de facto como que é que se recupera a confiança do investimento sem que as razões últimas dessa desconfiança estejam dissipadas.
Aplicando tudo isto à situação interna, ocorre-me cada vez mais a metáfora que se usava no serviço militar e que consistia mais ou menos nisto: excesso de voluntarismo na tropa significa muitas vezes estares isolado numa parada com toda a gente a dar um passo atrás, não alinhando nesse voluntarismo. E, como já se viu, os “pequenotes” do sidecar são descartáveis, mesmo muito descartáveis.

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