Tempos houve – com destaque para os dois
anos (1975/1977) que passou como comandante da Região Militar do Norte – em que o
General Pires Veloso era encarado como merecedor de saudação e quase herói
nacional. Sobretudo por muitos daqueles que hoje, amnésicos e ingratos,
macaqueiam as posições que alguns vieram a público defender sobre o estado em
que se encontra o País!
Não, não foi Mário Soares. Não foi sequer
Vasco Lourenço. Foi o próprio Pires Veloso que desta forma se pronunciou:
·
“Vejo a situação atual com muita apreensão e muita tristeza. Porque
sinto que temos uma mentira institucionalizada no país. Não há verdade. Fale-se
verdade e o país será diferente. Não se engane o povo de maneira nenhuma.”
·
“Tinha que haver um cultivo de valores, de ética e, para mim, há
uma inversão desses valores, dessa ética que eu não compreendo. Não aceito a
atuação de dirigentes como, por exemplo, o Presidente da República, que já há
pelo menos dois anos, como economista, tinha obrigação de saber em que estado
estava o país, as finanças e a economia. Tinha obrigação moral e não só de
dizer ao país em que estado estavam as coisas.”
·
“Quando se deu o 25 de abril de 1974, disseram que havia de haver
justiça social, mais igualdade e melhor repartição de bens. Estamos a ver uma
inversão do que o 25 de abril exigia.”
·
“Dá a impressão de que seria preciso um outro 25 de abril, em todos
os termos, para corrigir e repor a verdade no sistema e na nossa sociedade.”
·
“Eu também não sou apologista da força, nunca fui. Tem que haver
diálogo, tem que haver tolerância, mas tem que haver firmeza e tem que haver
moralidade, tem que haver verdade no meio disto tudo.”
·
“O povo já não aguenta mais e não tem mais paciência, é capaz de
entrar numa espiral de violência nas ruas, que é de acautelar.”
·
“Julgo que Passos Coelho quer a verdade e é esforçado, mas está
num sistema do qual está prisioneiro. O Governo mexe nos mais fracos, vai
buscar dinheiro onde não há. E, no entanto, na parte rica e nos poderosos ainda
não mexeu. Falta-lhes mais tempo? Não sei. Sei é que tem de mudar as coisas.”
Espantosa a facilidade com que as
pessoas são tornadas descartáveis neste Portugal à deriva! Mesmo aquelas cuja
experiência mais poderia relevar. Assim ocorreu com Mário Soares, em 2006,
rotulado de demasiado velho para chegar ao fim de um mandato que entretanto já
teria terminado. Assim ocorre hoje com o antigo “vice-rei do Norte”, desvalorizado
por falar do alto da sua sabedoria de vida. “Já estou habituado”?
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