sábado, 28 de abril de 2012

A CRISE EUROPEIA EM LEGOS


A celebrar o post nº 500 deste blogue, aqui deixo um imaginativo registo explicativo da crise europeia (clicar sobre a imagem para melhor visualização). Concebido por Michael Cembalest (com a ajuda do seu filho Peter de 9 anos), e originariamente publicado numa “research note” do banco americano J.P. Morgan (“Eye on the Market”, 6 de Setembro de 2011), tal registo corresponde a um esquema pedagógico integralmente assente numa exploração das famosíssimas peças da Lego.

Segue a respetiva legenda em versão reduzida:
1)       o toureiro e o piloto de Fórmula 1 representam a Espanha, a Itália e o resto da periferia europeia, os supostos “maus alunos da Zona Euro“;
2)       os guerreiros representam os três partidos no poder na Alemanha (CDU, CSU e FDP), opostos a soluções europeístas e defensores da austeridade nos países “incumpridores”;
3)       o marinheiro representa os finlandeses, exigindo garantias pela sua contribuição para o fundo de resgate e sustentando que ela seja calculada em função do risco de cada país (bancos franceses e alemães mais expostos à dívida periférica);
4)       a mulher com uma desproporcionada cenoura e o seu companheiro de macacão e pá representam a oposição alemã (SPD e Verdes), mais recetiva a soluções europeístas;
5)       o feiticeito Wotan representa o “Bundesbank“, guardião dos interesses económicos e fiscais da Alemanha;
6)       o porco-mealheiro representa o FMI, desempenhando um papel secundário a nível de empréstimos e controlos da respetiva implementação;
7)       o indivíduo de cabelo grisalho designado por ”Banque” representa o BCE, atualmente mais ativo no mercado de obrigações soberanas;
8)       o boneco com uma babete vermelha representa a Polónia, membro mais recente da UE e um não participante na Zona Euro que aguarda a evolução dos acontecimentos;
9)       os artistas representam a França, um país que está longe de estar a salvo de alguns estilhaços;
10)   o chefe zangado, o varredor, o piloto e o resto da variada tripulação representam os contribuintes dos países centrais europeus, principais afetados pelos cortes e principais pagadores dos planos de ajuda (repare-se no grande número de setas que lhes está apontado);
11)   os bonecos da ”Guerra das Estrelas” representam a Comissão Europeia e os ministros das Finanças do Eurogrupo (Durão e Juncker), tendencialmente apoiantes das intervenções do BCE e críticos impotentes do excessivo protagonismo franco-alemão;
12)   o banqueiro com monóculo e seu assistente representam os bancos e os detentores de obrigações europeias, em risco de serem chamados a um maior envolvimento de capital no desenvolvimento da crise.



Refira-se, a concluir, que o autor explica que a sua principal motivação foi a de abordar simplificadamente uma situação que considera ter-se tornado ”o ‘Berlin Alexanderplatz’ das crises da divida soberana”, numa feliz referência ao marcante livro (magistralmente adaptado ao cinema por Rainer Werner Fassbinder) em que Alfred Döblin (1928) retrata exemplarmente um homem saído da prisão decidido a começar uma vida nova e jurando manter-se doravante probo ao mesmo tempo que vai premonitoriamente evocando todas as feridas que irão ser abertas entre a Alemanha e a Europa. Citando um crítico do “L’Express”: “ele explica que a miséria económica engendra muitas vezes o racismo social e que a fraternidade desaba quando se torna tão simples cair nos dogmas perentórios da estratégia do bode expiatório”…

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