domingo, 1 de junho de 2025

O DESPLANTE DE RIO OU O SACO DE GATOS DO PSD

 

(A primeira fila dos apoiantes do Almirante, certamente a cheirar a naftalina, e como o País precisa de fatos e personagens novos, anunciava o pior. Mas tive imediatamente a perceção de que muita coisa iria emergir para nos espantar, pois o cheiro a vitória tem uma atração sinistra em muita gente, ávida de partilhar a sensação da maioria. Pois eu, que sofro do contrário, ou seja, o receio de partilhar essas maiorias, exceção feita ao desgraçado e à procura de timoneiro SLB, tive a intuição de que as adesões ao Almirante iriam surpreender. Aí está a primeira, com o desplante de Rui Rio a apresentar-se como mandatário nacional do homem dos submarinos, em claro desalinhamento com o seu partido que lá se foi aconchegando em Marques Mendes. A decisão de Rio vem acompanhada da expressão de uma convicção do próprio: “O país precisa "de um presidente com dimensão e sentido de Estado", "livre, isento e independente”. Creio que não será necessária uma argúcia política por ai além para compreender que Rio pretendeu marcar a diferença em relação à decisão do seu partido de apoiar Marques Mendes. Ad contrario, o que Rio pretendeu com esta decisão é dizer alto e bom som que Marques Mendes não tem nem dimensão nem sentido de Estado e que não será um Presidente livre, isento e independente. Diria por outras palavras que temos aqui o saco de gatos que o PSD sempre foi no seu melhor. Se tivesse formação para isso, apetecer-me-ia ensaiar uma interpretação mais psicanalítica da decisão de Rui Rio, mas deixo isso aos comentadores letrados nessa matéria. O autoritarismo latente na personagem contraditória de Rio, lembro-me de outros tempos em que Rio passou pela Faculdade de Economia do Porto vindo do Colégio Alemão, poderá ter sucumbido ao apelo de uma personalidade autoritária e liderante como o Almirante. Por outro lado, poderão existir contas passadas seja com Montenegro, seja com o próprio Marques Mendes, sabe-se lá. E não enjeitaria também a vontade de marcar diferença em relação ao consulado de Marcelo. Aceitam-se outras leituras psicanalíticas.)

O posicionamento de Rio quanto aos desmandos do Ministério Público e sobretudo dos representantes do sindicato representativo despertou em mim respeito e admiração, que gostaria de ter visto mais marcado em algumas personalidades do PS. Rio foi dos poucos que identificou a degenerescência democrática do conluio entre o Ministério Público e a imprensa sensacionalista de confiança, invertendo o processo – transpondo a justiça para os jornais e utilizando depois essa evidência para fortalecer os processos que padecem de falta de investigação ou de investigação incompetente. Reconheço que nos tempos atuais essa posição envolve muita coragem política.

Mas Rio nunca conseguiu libertar-se dos seus tiques de autoritarismo e da completa inabilidade para compreender a independência da criatividade, incapaz de compreender o valor das franjas culturais e sempre disposto a pactuar com a ditadura dos gostos das maiorias.

Resta-me saber de quem foi a ideia que conduziu à aceitação do posto de mandatário nacional de Gouveia e Melo. Quem compreendeu que Rio poderia ser um elemento a contactar para essa aceitação não é burro, pois revela uma leitura profunda da personalidade do ex-líder do PSD.

A procissão saiu agora do adro e outras adesões irão surpreender-nos.

Veremos se estou ou não enganado.

 

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