(Já aqui enunciei a ideia de que os resultados eleitorais de 18 de maio passado colocaram o Partido Socialista num plano inclinado que é substancialmente similar ao observado num número muito significativo de partidos socialistas e sociais-democratas por essa Europa fora. Não se trata, por isso, de algo que possa ser considerado como algo de inesperado, quando muito inesperado poderá ser a rapidez com que o declínio se manifestou, tendo em conta sobretudo que ainda há bem pouco tempo o partido dispôs de uma maioria absoluta, essa sim então bastante inesperada e depois desperdiçada. Entre os argumentos que desvalorizaram a dimensão da perda de votos, seja para a AD e muito para o Chega, estão as vozes que recordaram que o PS tem uma implantação autárquica inestimável e que as próximas eleições poderão servir de dique de resiliência, face a uma situação que nos deve preocupar pela crise de balanceamento que a queda do PS pode provocar no sistema político português. Sou sensível a esse argumento, mas também tenho de recordar que o apogeu do pensamento municipalista e descentralizador aconteceu já há muito e que nos últimos tempos não tem saído nem do Largo do Rato, nem das principais Federações distribuídas pelo país uma ideia relevante que seja em matéria de aprofundamento da descentralização política. Por outro lado, a presidência da Associação Nacional de Municípios a cargo de uma autarca representativa do PS, Luísa Salgueiro, também não tem conseguido estabelecer qualquer diferença na condução dos destinos daquela importante organização do Poder Local.)
Mas o argumento das próximas eleições autárquicas como um marco decisivo na construção de uma barreira ao declínio político do Partido nos próximos tempos mantém-se e justificaria uma preparação mais profunda do próximo ato eleitoral para que os resultados finais não constituam um mero somatório de candidaturas locais apoiadas pelo partido e representem algo mais na afirmação da ideia de que o PS tem muito para dar à democracia portuguesa.
Obviamente que a mudança de líder e o período de tempo em que a composição do Conselho Nacional do partido não reflete a nova posição ideológica da liderança que se anuncia, José Luís Carneiro, terá sempre consequências negativas para a preparação do próximo ato eleitoral. Até agora do que temos tido conhecimento público, anda por aí frenética uma dança agitada de nomes, com gente que se desliga do PS para concorrer como independente contra a candidatura oficial do partido, já para não falar de casos como o de Vizela, em que o PS retirou a confiança política em quem se deixou envolver em questões de violência doméstica, caso de Vizela. Ou ainda, do caso mais recente do socialista de Benavente que se aventurou numa rejeição virulenta da possibilidade de alguma mesquita ser construída no concelho. Ou há o ainda mais estranho caso de Cabeceiras de Basto em que o “senhor daquilo tudo”, o todo-poderoso Joaquim Barreto, antigo Presidente por muitos e largos anos, decidiu enviar uma carta aos militantes socialistas retirando a sua confiança no atual presidente da Câmara Municipal socialista, penalizando e comprometendo seriamente a sua reeleição.
É difícil perceber a real dimensão destes casos de cuspo na sopa, regra geral fruto de ambições pessoais desmedidas que não lidaram bem com decisões das estruturas partidárias locais que não optaram pelos seus “bonitos” olhos e reconhecidos préstimos, na sua apreciação claro está. Podem ser exemplos que venham a poder ser considerados pontuais, mas o que está no ar é pouco condizente com uma situação em que o Partido precisa de consolidar a sua resistência e construir a partir do poder local uma oposição próxima dos cidadãos e inspirada pelo seu sentido de futuro.
Espero que na apresentação de todos os candidatos pelo PS, seja qual for o modelo que essa apresentação revista, José Luís Carneiro aproveite esse momento de notoriedade política para construir um pensamento claro e simples do que o PS pretende atingir com os seus projetos de proximidade. A diversidade dos projetos locais não pode obviamente ser prejudicada, mas é necessário envolver esses projetos num propósito firme de marcar posição sobre os desafios do País.
Por fim, não diretamente relacionado com as Autárquicas, mas antes com o declive em que o PS foi colocado nas últimas eleições, estou decididamente cm Manuel Alegre quando ele solicita que o PS dê o mais depressa possível o seu apoio à candidatura de António José Seguro. Se os Costistas estão de candeias às avessas com essa candidatura o melhor será enfiarem a violinha no saco. Além de não terem apresentado um candidato de jeito, não podemos esquecer que não foi Seguro a desperdiçar uma maioria absoluta de modo incompreensível e muitas vezes incompetente. Depois, o Costismo não fez rigorosamente nada para colocar a liderança de Pedro Nuno Santos num rumo aceitável que não conduzisse ao descalabro de 18 de maio.
Nas condições de declive já enunciadas e sem qualquer candidatura unitária de esquerda a perfilar-se, Seguro é a candidatura que pode permitir uma saída airosa. Não é necessário envolverem-se hipocritamente na candidatura.
Basta estarem calados.

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