(Sou dos que ficaram profundamente chocados com as atrocidades cometidas pelo Hamas no território sul de Israel, tendo então intuído que nada a partir dali iria ficar na mesma. A selvajaria arbitrária de tais ataques ficará na história como o mais terrível erro político na defesa dos interesses legítimos dos palestinianos. A minha intuição foi então a de que tais atrocidades corresponderam ao que o governo extremista de Netanyahu pretendia para libertar os seus ímpetos expansionistas e levar a violência de ocupação e genocídio a níveis incomparavelmente superiores à selvajaria do Hamas. Não me enganei nessa intuição. Mas rapidamente compreendi também que não estava preparado para antecipar a engenharia macabra de violência que Israel de Netanyahu era capaz de desenvolver e sobretudo o genocídio organizado do povo palestiniano que começou a ser concretizado, assumindo as mais estranhas formas. As incursões pelo sul do Líbano, os ataques aos Houtis, a guerra com o Irão e, mais recentemente, os ataques na Síria a pretexto da proteção da minoria Drusa, não foram mais do que distrações de ocultação do horror da violência perpetrada constantemente em Gaza. Não me venham com o espantalho do antissemitismo mais doentio, mas já não via desde há tão longa data um unanimismo tão absoluto na opinião pública mundial como o que está a acontecer com a condenação da barbárie genocida israelita. A suprema manipulação da fome em Gaza, com particular incidência entre as mulheres e crianças assume proporções de inferno dantesco. E a transformação dos momentos de ajuda alimentar em oportunidades adicionais de morticínio da população palestiniana não tem classificação possível à luz dos principais civilizacionais mais elementares, podendo assim concluir que os avanços civilizacionais são frágeis e precários, pois estão nestes casos a ser ignorados por uma nação que se considera, e tem razões para isso, avançada.)
Estou certo de que a palavra que escolhi para título desta crónica não existe. Mas a escolha foi propositada para marcar o absurdo desta ignomínia de violência sobre os mais indefesos. A transformação da ajuda alimentar em alvo de morte e eliminação pura e simples tem sido vagamente explicada por Israel com a desculpa de que o Hamas rouba a ajuda humanitária em seu proveito. Duvido deste argumento, pelo menos como argumento global e suficientemente determinante para vermos o impensável – a escolha entre ter acesso a ajuda ou morrer. Para já é contraditório com o argumento de que tanta violência e destruição foram necessárias para destruir o Hamas. Afinal não terá sido erradicado. O exercício continuado da violência tira discernimento a quem a pratica. O Hamas terá sido expressão desse princípio. Mas estou convencido que é agora Israel a demonstrar que esse princípio é válido.
Entretanto, o “j(g)iripollas” do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros continua olimpicamente a ignorar tudo isto.
Por isso, me pareceu que o cartoon que abre este post era o que melhor descrevia o nível alto da minha indignação, mas também impotência perante o rumo dos acontecimentos em Gaza.

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