quinta-feira, 31 de julho de 2025

CARÊNCIAS NOS INCÊNDIOS

 

Nada como recorrer a notícias mais objetivas e diretas ao assunto, como as dos jornais do país vizinho (no caso, o “El País”) para abordarmos a recorrente chaga dos incêndios de modo adequado. É que, por cá, as televisões e os restantes meios de comunicação social só se referem às tragédias visíveis, às aldeias atingidas, às casas afetadas e às famílias indefesas, entrevistando os atarantados autarcas locais e o máximo possível de vítimas defrontadas com situações escabrosas, trazendo aos estúdios os supostos especialistas da matéria (a exemplo dos médicos das vacinas ou dos majores-generais das guerras) para convincentemente nos explicarem quanto não foi mas podia ter sido feito por uns e por outros, durante o passado inverno, no sentido de minimizar o inevitável. Sendo que, afinal, a questão tem dois lados evidentes: (i) o do ordenamento do território e suas derivadas em termos de preservação e limpeza dos terrenos e respetivas obrigações e monitorizações, dossiês que subsistem mal tratados após anos a fio de discursos inflamados e decisões apenas pretensamente solucionadoras (também por desviadas do conhecimento da realidade local e do empoderamento das respetivas autoridades), não devendo escamotear-se ainda a manifesta irresponsabilidade (quando não as práticas criminosas ostensivamente fomentadas) de muitos proprietários privados; (ii) o dos meios de combate em falta e em rota de redução, assim se alardeando quanto é de falta de Estado e não de excesso que o País sofre em vários domínios da sua vida coletiva, sem prejuízo de não se deverem obviamente escamotear as múltiplas e inventivas práticas de aproveitamento e corrupção que parecem grassar no seio dos principais operadores e autoridades.

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)

Sem comentários:

Enviar um comentário