quinta-feira, 3 de julho de 2025

EM BUSCA DA ORIGEM DE QUASE DUAS CENTENAS DE MILHAR...

(Elaboração própria a partir de https://www.cne.pt)

Continuo às voltas com os resultados eleitorais registados. Faço-o em diversas direções e com múltiplos fins tentativos, reportando hoje aos nossos leitores o output essencial de uma aritmética simplista aplicada aos últimos cinco escrutínios legislativos. Com a principal grande conclusão a ir no sentido de que algo de paradoxal ocorreu no sistema partidário no último destes atos, aquele em que a lógica mais admissível deixa de funcionar em termos explicativos.
 
Vejamos: a base da minha procura assenta em quatro grandes espetros partidários, a saber, os da Direita e Esquerda Moderadas (respetivamente, o somatório PSD-CDS-IL, por um lado, e o PS, por outro) e os da Direita e Esquerda mais radicais (respetivamente, o Chega, por um lado, e o somatório BE-PCP-L-PAN-JPP, por outro), juntando ainda aos dados o número de inscritos para cada eleição, o número verificado de abstencionistas e o total de votantes nos restantes partidos mais os brancos e nulos. No tocante a 2019, ano de vitória relativa de Costa, de renovação da “geringonça” e em que surgem o Chega e a Iniciativa Liberal (que, por ora, não discriminei), a interpretação parece fácil: a chamada Direita Moderada é a grande perdedora (378 mil votos a menos em relação a Passos 2015), muito provavelmente em favor maioritário (até cerca de dois terços) da abstenção e em parte de um crescimento do PS e do Chega (estes também beneficiando, em partes relativamente equivalentes, das perdas ocorridas mais à esquerda e nos outros partidos, respetivamente).
 
Em 2022, ocorrem dois fenómenos surpreendentes mas encaixáveis: a maioria absoluta do PS (com mais 380 mil votos face a 2019) e a primeira explosão do Chega (com mais 319 mil votos face a 2019). Mas a interpretação ainda cabe dentro de uma lógica razoável, a saber, a de uma larga fatia à esquerda ter optado pelo voto útil no PS (ainda tendo havido alguns cidadãos dessa área, que perde 415 mil votos, a fugirem para a abstenção) e a de uma mobilização em favor da extrema-direita de um conjunto de abstencionistas mais ou menos inveterados; isto com a Direita Moderada a crescer (efeito dominante da Iniciativa Liberal) num montante ligeiramente superior ao da diminuição de votantes nos partidos residuais. Obviamente que me estou a cingir a uma esquematização de movimentos que não deixa de ser compatível com variações marginais alternativas em um ou outro sentido.
 
O ano de 2024 conhece a segunda explosão do Chega, que incrementa a sua votação em 723 mil votantes. Mas, e novamente, é razoável assumir que grande parte deste possa ter provido de uma história redução do número de abstencionistas (777 mil votantes regressados). O outro grande movimento é o da enorme quebra registada pelo PS (menos 486 mil votos), o que terá acontecido dentro da norma, ou seja, à custa de um regresso dos eleitores mais à esquerda (174 mil), a uma fuga para partidos marginais ou para os brancos e nulos (mais 151 mil) e a uma oscilação dentro do centro em favor da Direita Moderada (mais 190 mil).
 
E eis-nos em 2025, o primeiro destes exercícios eleitorais em que as contas não batem certo em relação à lógica a que vínhamos estando habituados. Isto porque a abstenção regressa (mais 169 mil) e deixa de explicar o crescimento do Chega (mais 237 mil), só pontualmente assacável à diminuição em 49 mil dos votos residuais, ressaltando assim 188 mil votos à procura de dono. Depois, a Direita Moderada cresce mas num valor que é significativamente inferior ao da queda do PS (164 mil votos a mais versus 365 mil a menos), com a agravante de a área mais à esquerda ter também perdido um montante importante de 161 mil votos. Tudo somado, e naturalmente admitindo que o incremento abstencionista tenha decorrido repartidamente nos setores de esquerda (PS e esquerda do PS), ficam aqui em causa uns cerca de 200 mil votos que pareciam fidelizados e aparentemente deixaram de o estar pela primeira vez, em termos dominantes, na nossa história eleitoral. Será em busca destes que irei de seguida, se assim para tal se me revelarem as necessárias capacidades analíticas, já que a aritmética é básica e ainda vai estando ao meu alcance.

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com)

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