quinta-feira, 24 de julho de 2025

NÃO HAVIA NECESSIDADE...

Estava realmente muito convencido da justeza da minha intuição relativamente à indigitação do governador do Banco de Portugal (BdP). E Leitão Amaro não fez mais do que tal confirmar com o seu discurso fugidio em relação a Centeno e laudatório em relação a Álvaro, o escolhido.

 

Afinal, já todos tínhamos percebido a chico-esperteza política de Luís Montenegro, alguém que tem tanto de palavroso e bem-falante como de demagogo ao serviço de uma aflitiva ausência de rumo estratégico para o País, o que substitui com mestria por navegação à vista e adaptação oportunista ao entorno (em benefício do Chega enquanto Ventura quiser ganhar lastro). Mas aquilo de que não havia mesmo necessidade era de agir como se os portugueses fossem mentecaptos incapazes de alcançarem o sentido eleitoralista e de preservação pessoal que anima as suas medidas e propostas; foi o caso vertente do seu elogio às competências de Mário Centeno para a função que desempenhava, colocando-o como passível de ser escolhido para uma renovação de mandato, e do modo capcioso como no dia seguinte mandou para os jornais informação em torno dos alegados atropelos cometidos pelo ainda governador – para quê, senão para deixar evidente aos olhos de todos a força dos seus circunstanciais pequenos poderes e/ou para dar maior visibilidade à maldade grosseira que assim fazia a Centeno?

 

Claro que o governador também não é flor que se cheire, do que foi dando sucessivas e infindáveis mostras ao longo da sua vida política e pública. A sua conflitualidade relativamente a Carlos Costa, tenha ou não alguma dose de razão, atingiu píncaros incompreensíveis de excesso e vingança (mesmo que à custa do melhor interesse nacional), a sua pressão sobre António Costa para que o nomeasse para o BdP (vindo diretamente do posto de ministro das Finanças) roçou o inaceitável, a sua postura de “rainha de Inglaterra” (traduzida numa afrontativa deslealdade ao governo de Montenegro e numa clara utilização do lugar que ocupava para autopromoção política) teve laivos chocantes, a sua assumida vontade de ser primeiro-ministro em substituição ou até presidente da República foi notoriamente despropositada, a sua gestão interna no banco central (distinguindo, p.e., filhos e enteados e protegendo aqueles de forma aparentemente inexplicável) não terá sido intocável... Ou seja, Centeno pôs-se a jeito, ponto final; só que o grave é que o dossiê com que o quiseram matar publicamente está longe de estar devidamente explicado e poderá até estar imbuído de viciação no tocante à versão de Miranda Sarmento. E, entretanto, assim se perdeu um governador com defeitos mas competente e internacionalmente reputado em favor de um ser bem-disposto (e criacionista dos sete costados, como reportamos em tempo oportuno neste espaço) a quem não se conhecem suficientes atributos apropriados para as exigências técnico-políticas do lugar que não os de ter sido um falhado ministro de Passos e um funcionário zeloso e em patrocinada ascensão na burocracia da OCDE.

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