domingo, 27 de julho de 2025

NUNO PORTAS

A notícia chegou-me antes de ser pública, emitida por gente amiga e dele também muito próxima. Dizia assim: “Morreu pacificamente durante a última noite quem em toda a vida nem sossegou nem deixou ninguém sossegado. Nuno, o arruador, o que nunca desistia até chegar aos limites e nunca deixava os outros desistirem. Adeus.” A comunicação não foi de todo inesperada, atentos os últimos anos de perda que o Nuno vivera sem realmente viver. Com esta morte de Nuno Portas (NP), aos 90 anos, é parte relevante de uma brilhante e inovadora geração de arquitetos (Távora, Siza, Nuno Teotónio...), tendo alguns como ele acabado por optar pelo território e pelas cidades, pelo planeamento e urbanismo e, mais lateralmente, pelo ensino e pela intervenção política (com incursões governativas, com destaque para os Governos Provisórios do pós-25 de abril, e autárquicas, nomeadamente em V. N. Gaia).
 
A obra de NP é de uma vastidão dificilmente inumerável, mais não seja para não privilegiar algumas das suas componentes em detrimento de outras (embora o SAAL e Guimarães quiçá tenham sido as maiores marcas diferenciadoras). Terá encontrado na chamada “Escola do Porto” o seu refúgio pensador e praticante, sendo ainda justo sublinhar as suas subsequentes e originais realizações com o geógrafo Álvaro Domingues. Algo que também sempre nele admirei foi o seu lado tolerante, bem visível no garboso pai formador de pessoas tão diversas quanto Miguel, Paulo e Catarina. Pessoalmente, conheci-o de perto na OID do Vale do Ave, onde foi figura inspiradora e determinante, e, daí em diante, convivemos na partilha de projetos de diversa índole. Mais um daqueles seres que não andou só por aí, NP logrou realmente alcançar o direito a não ser esquecido.

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