
(O meu colega de blogue já se referiu à matéria e por
isso hesitei em acrescentar algo a este tema. Na verdade, não sendo residente
no Porto, embora o filho, nora e netos portuenses impliquem uma relação indireta
afetiva com a Cidade, as memórias afetivas sobre a mesma são tão intensas, às
quais se juntam experiências de trabalho no passado, que se justifica que, na
qualidade de cidadão metropolitano, continue a refletir sobre o futuro político
da Cidade. Não é que os problemas de residência em Vila Nova de Gaia, embora
possa considerar-me privilegiado por viver em zona urbana residencial calma e
estabilizada como é a envolvente a Soares dos Reis e Escola António Sérgio, não
sejam mais preocupantes que os do Porto, mas talvez um dia destes quando se
perfilarem os candidatos tenha oportunidade para dizer algo como cidadão
residente. Por agora, fico-me pelo fado das corridas eleitorais ao
Porto político estarem muito longe de entusiasmar os cidadãos, particularmente aqueles
que pensam que a Democracia nas cidades é algo que a participação política tem desperdiçado
como instrumento de aprofundamento da própria Democracia. Desde os tempos em
que Fernando Gomes tinha algum carisma e animava a Cidade com a sua peculiar
maneira de fazer política, posteriormente toda essa intuição ruiria para passar
a defunto político envolvido nos últimos resquícios da administração de Pinto
da Costa na SAD do FCP, rumo apenas interrompido pela esperançosa candidatura
de Elisa Ferreira, o PS tem-se entregue a uma inércia de representação que tem
contribuído ativamente para o definhamento daquele Porto liberal e generoso que
conhecíamos e do qual nos orgulhávamos.)
O último mandato de Rui
Moreira é, no meu entender metropolitano, uma profunda desilusão. Fica a
impressão que o ainda Presidente da Câmara Municipal do Porto viveu este
mandato a contragosto, aspirando por algo que não conseguiu definir e perseguir
com afinco e coerência. Essa atitude de nem-nem penalizou fortemente o movimento
político que o elegeu e muito dificilmente o pressuposto candidato Filipe
Araújo, do que aliás tenho as melhores impressões, esclareça-se, terá condições
para se sobrepor às candidaturas partidárias que estão perfiladas.
Retirando a expressão da
sua animosidade contra a lentidão (benevolamente atrasos inevitáveis de
construção e não possíveis ineficiências organizacionais, que podem bem
existir) das obras do METRO, Rui Moreira perdeu Voz e gás na sua luta pela
descentralização e dignificação política da Cidade, que ansiava recuperar o seu
espírito liberal e combativo. Do meu radar político, a vereação das questões
educativas e sociais, Fernando Paulo, destacou-se e foi nessa área de
intervenção que este mandato de Rui Moreira vai deixar algum rasto. Por outro
lado, a passagem de Ricardo Valente pela vereação com as questões do desenvolvimento
económico, inovação e promoção internacional da Cidade acabou por ser um
equívoco. A sua conceção da Cidade como agente imobiliário deixou muito a
desejar e foi sem surpresa que o vejo a prosseguir a sua atividade profissional
como Diretor-Geral da Savills Porto, tudo acaba na sua perfeita coerência.
Reconheço que ter uma
Cidade agredida durante tanto tempo com obras da dimensão das novas linhas do Metro
não é propriamente a condição ideal para deixar marcas urbanísticas e de
mobilidade marcantes. Até porque há sítios emblemáticos da Cidade atingidos no
seu âmago pelos atrasos do projeto como o são por exemplo a ligação entre a
Praça da Liberdade e a Estação de São Bento e subida para a ponte D. Luís, o
Carmo e a ligação à Cordoaria, a Praça da Galiza, o Campo Alegre. Mas a
história do metrobus na Avenida da Boavista já cheira a ridículo, tantas
são as indecisões e não previsibilidade atempada das dificuldades de
fornecimento de material circulante ao projeto.
Mas as expectativas de
coesão territorial que andavam associadas ao Master Plan para a zona oriental
da Cidade tardam em ganhar forma e expressão concreta, o que se vê é o avanço
não sabemos se devidamente regulado dos apetites de valorização imobiliária,
sem que estruturalmente as insuficiências associadas a essa zona tenham
experimentado correção que se veja. Por sua vez, a ideia do Porto Innovation
District em torno do pólo da Asprela da UP e e dos respetivos interfaces de
investigação como o INESC TEC, o INEGI e o ISSS e sua ligação aos vazios
urbanos de Contumil e zonas adjacentes continua a ser uma miragem.
Significa isto que,
estrategicamente, a Cidade continua num limbo e que haveria matéria bastante
para animar uma corrida eleitoral com uma outra expressão apelativa. Já não
seria pedir muito exigir por exemplo que os candidatos se esforçassem por
abordar o tema da turistificação da Cidade, claramente em curso, não apenas com
a eterna questão do alojamento local, mas sobretudo agora com o crescimento
desmesurado do número de hotéis que vão surgindo como cogumelos em diferentes
pontos da Cidade.
Pois o que temos na
forja não é apelativo e não desperta qualquer entusiasmo em diferentes grupos
de atenção dirigidos para a Cidade.
A candidatura do PS
protagonizada por Manuel Pizarro parece apostada na velha convicção de que
tantas são as tentativas que alguma haverá de resultar. Perseverança e experiência
serão as palavras-chave, mas ideias apelativas sobre o futuro estratégico da
Cidade parecem escassear ou então o candidato entende que não é tempo de
desperdiçar cartuchos. Continuo a pensar que o PS teria um vasto campo de
atuação se fosse mais fundo na sua relação com o movimento associativo que
continua a fazer diferença no Porto, que fez a diferença em termos de
resiliência aos avanços que Rui Rio protagonizou sobre esse Porto mais livre,
por ele confundido com esquerdização da Cidade e elitização excessiva da mesma.
Estou pessimista quanto à energia que Pizarro apresente nesta sua terceira
tentativa, mas espero benevolamente ser surpreendido.
O PSD optou com pompa e
circunstância, a arruada do Bolhão foi paradigmática, por um candidato que não
é destituído de intuição política e que ambiciona a mais altos voos no partido.
Pedro Duarte cola-se como uma luva ao PSD atual e, embora se sinta incomodado
no Princípio da Incerteza por ter ao seu lado direito José Pacheco Pereira com
aquele olhar fulminante que mede cada argumento do seu (ainda) colega de
partido, lá vai tentando montar uma imagem de político não troglodita e
defendendo sobretudo a sua própria imagem da governação de Montenegro. Não será
obviamente a sua participação no programa de Carlos Andrade que lhe vai garantir
votos na Cidade, mas fica sempre bem aquele patine de comentador aberto ao
diálogo político. Não antevejo que dali saiam grandes rasgos para o desenho do
futuro da Cidade, mas benevolamente como em relação a Pizarro, espero ainda ser
surpreendido.
Quanto aos restantes
candidatos, as perspetivas do movimento que levou Rui Moreira ao poder de
colocar Filipe Araújo na corrida são bastante interrogadas e não desdenharia
que em período de preparativos existisse uma aproximação ao PSD de Pedro Duarte.
Quanto ao PCP e ao Bloco
de Esquerda não será seguramente com a campanha no Porto que aquelas duas
forças políticas irão recuperar forças. Veremos como sairão do ato eleitoral de
18 de maio para ajuizar se alguma ideia interessante poderá brotar das suas
candidaturas à Câmara Municipal.
Onde se nota algum
vazio, sinal dos tempos, é no movimento associativo mais basista que continua a
preferir a correr por caminhos próprios de resiliência em detrimento de poder ganhar
alguma expressão política. É pena, pois considero que é por aqui que passa
alguma diferença resiliente do Porto. Claro que o envelhecimento de alguns
animadores locais retirou da contenda muita gente que ainda a ter energia é
para os seus próprios projetos que bem dela necessitam.
O panorama de
definhamento do poder intelectual e de intervenção pela diferença na Cidade
parece-me claro e instalado e provavelmente não serão as próximas eleições locais
a marcar uma rotura com esse estado das coisas. O que mostra que a tentativa de
construir alguma coisa em torno do futebol como marca de afirmação da Cidade
parece ter falhado. Por outro lado, projetos como Serralves ou a Casa da Música
(parabéns a quem lá trabalha pelos 20 anos) já estarão noutro campeonato, o da
internacionalização.
O centralismo da Capital
agradece reconhecido esta inação.
Onde estás tu, Ó
espirito liberal e combativo de outros tempos?