(O Bloco está claramente em dificuldades, não me sendo por agora claro se o declínio das suas posições se deve à incapacidade de ler o contexto mundial e retirar daí as devidas implicações ou se é o novo espectro político nacional gerado com o elefante na sala dos 50 deputados do Chega a explicar que não tenha acertado uma nos últimos tempos. O toque a rebate com a chamada ao ato eleitoral de maio de 2025 de Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda em lugares potencialmente elegíveis mostra bem o flop que tem sido a liderança de Mariana Mortágua. Esse flop tanto pode ser devido à incapacidade de se fazer ouvir no atual contexto nacional e internacional, como à dificuldade de suceder a uma Catarina Martins com maior empatia com o eleitorado e, arrisco dizê-lo, mais genuína no modo como comunica com o seu eleitorado, que está a encolher. De facto, os tempos em que a valia intelectual dos seus principais dirigentes se afirmava no plano político e o Bloco gozava dos benefícios de uma comunicação social seduzida pelo seu discurso fraturante são, nos tempos que correm uma recordação nostálgica para os dirigentes atuais. É um facto que as contradições internas vindas a público com a sua política laboral interna em período de encolhimento do número de deputados e do financiamento público correspondente ajudaram a cavar ainda mais o buraco latente, sobretudo pela inábil tentativa de esconder a contradição, ignorando que todas as organizações, incluindo as empresas, enfrentam períodos de rarefação de recursos que exigem respostas consequentes, nas quais é difícil manter a coerência das ideias apregoadas para os outros. Mas o que me espanta neste declínio é que temos de cavar muito para encontrar nos últimos tempos uma ideia política relevante que seja. O Bloco apresenta-se como um partido claramente ultrapassado pelos acontecimentos, incapaz de marcar algumas dimensões do debate político e longe vão os tempos em que, por exemplo, a questão da fiscalidade e da financeirização da economia se destacava no debate político e nem provavelmente este toque a rebate e a chamada ao palco dos velhos nomes do partido colocará o partido a salvo do risco da irrelevância política…)
Espanta-me também que a nível da produção de ideias que espaços como o Ladrão de Bicicletas, espaço de blogosfera em que pressentíamos alguma agitação de pensamento, o conformismo parece estar instalado e nada de substancialmente renovador e entusiasmante. João Rodrigues, economista com algum pensamento, parece perdido nos meandros da academia e Ricardo Paes Mamede (RPM), que continua a ter bom acesso à televisão pública e aos jornais, principalmente o Público, parece neste momento mais rendido às suas funções no ISCTE do que propriamente a contribuir para a renovação sensível do pensamento do Bloco. Os seus recentes escritos no Público sobre a situação europeia, particularmente sobre as questões da defesa e segurança, são um conjunto de banalidades que evidenciam uma preocupante incapacidade de compreender o imbróglio em que a União Europeia está mergulhada. Perante esta guinada revivalista de Pedro Nuno Santos a reclamar um novo relatório Porter para relançar os rumos do país, esperar-se-ia que, face ao conhecimento que RPM possui das questões da inovação tecnológica em Portugal, pudesse aparecer com alguma reflexão relevante nessa matéria e como dessa reflexão está a esquerda necessitada. A norte, o panorama também não é animador. João Teixeira Lopes não está propriamente desaparecido em combate, antes essencialmente voltado para as questões da investigação académica e também não tem animado o panorama de novas ideias.
Todos sabem que nunca morri e não morro de amores pelo pensamento do Bloco, mas custa-me assistir ao seu apagamento, mostrando uma vez mais que a valia intelectual e académica das lideranças e principais nomes de um partido não é condição suficiente para afirmar a sua diferença no espectro político relevante e interveniente.
Regresso á minha interrogação inicial: não consigo por agora discernir se este apagamento resulta da dificuldade de entender a complexidade do contexto mundial e europeu em que a prática política é desenvolvida, se pelo contrário ele faz parte da TPeC (Transição Política em Curso) à esquerda, induzido pelo surgimento do elefante na sala da extrema-direita.
Mas pensando bem, a ameaça da extrema-direita até poderia revigorar o discurso mais à esquerda do Bloco e não me parece que seja isso que esteja a acontecer. O problema é que as duas questões estão interligadas e daí achar que a transição não está devidamente compreendida pelo Bloco.
Será que a chamada a terreiro da valia intelectual e experiência política de gente como Louçã, Rosas e Fazenda irá trazer algum ressurgimento de ideias ou o problema é mais vasto e nem sequer essa senioridade tem condições para o resolver ou, pelo menos, mitigar, aguentando?