quinta-feira, 10 de abril de 2025

“ISTO”, AO CORRER DA PENA...

No meio da insanidade que nos cerca, sobretudo na decorrência da atuação destemperada e errática de Donald Trump – que está a ponto de fazer da China de Xi um foco de estabilidade na configuração atual da economia mundial –, cá prosseguimos nós na nossa apagada e vil tristeza de elegermos o que pouco interessa para centro das discussões caseiras. Ao que os debates televisivos, que vão ingloriamente acontecendo no quadro da pré-campanha eleitoral visando as Legislativas de 18 de junho, só acrescentam de profunda irrelevância para comentadores se entreterem (com atribuição de notas e tudo) – salva-se a exceção das incursões mais sugestivas e competentes de alguns, como é o caso de Luís Paixão Martins na antena da “CNN Portugal”.

 

Mas nem só de comentário profissional vive o homem, há também as apreciações e declarações políticas a considerar em termos de contribuição ativa para o descoco generalizado. De entre a enormidade das ilustrações possíveis, quero hoje ressaltar a do presidente do município de Lisboa, Carlos Moedas, um agente que se comporta como um autêntico exemplar na ultrapassagem dos limites admissíveis de inépcia política conjugada com esforços titânicos para induzir o aparvalhamento nos seus concidadãos – a melhor dos últimos tempos, já não referindo aqueles seus passeios aos Sábados de manhã à procura de detetar problemas na Capital, esteve naquela entrevista à “SIC-Notícias” em que se queixou das atribulações por que tem passado o seu mandato: nada menos do que duas grandes cheias e dois terramotos, e cito as palavras literais do próprio; confrontado com uma tal desgraça a atingir Lisboa e o seu não reconhecido presidente, Ricardo Araújo Pereira não desperdiçou a oportunidade de puxar do seu balãozinho e ridicularizar o disparatado autarca.



Mas o habitualmente sensato Castro Almeida também primou pelo exagero, num quadro de acusação ao programa apresentado pelo PS em que encostou Pedro Nuno a Sócrates (menosprezando várias verdades históricas, designadamente ao apresentar a ideia de que Sócrates “prometeu tudo a todos”), falou de uma “receita para o desastre” e de “fim das contas certas” e acusou os socialistas de estar apoderados pelo “desespero”. A intervenção de um ministro sensato nos termos em que ocorreu demonstra, isso sim, algum desespero a imperar nas suas hostes, o que, apesar das melhorias reveladas por Pedro Nuno, não deixa de ser algo paradoxal em face das sondagens existentes, da vox populidominante e do modo quase indiferente como os portugueses reagem às tentativas aparentemente bem conseguidas de Montenegro no sentido de os “comer por parvos”.


(cartoons de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
 

À esquerda, por fim, temos Pedro Nuno a procurar enfrentar o descrédito do PS juntos dos jovens com a inclusão de uma rapper nas suas listas – estas soluções tipo mezinha são particularmente irritantes! – e o Bloco de Esquerda a procurar inverter a sua visível quebra com a recuperação dos seus “velhos”, menosprezando a necessidade, isso sim, de afinar a forma de estar de Mariana Mortágua (sempre demasiado séria e radical na atitude) e as suas propostas no sentido de as ajustar à situação concreta em presença. Deixo, por ora, Rui Tavares e Paulo Raimundo de lado, sendo que o primeiro se parece cada vez mais com um reviver fora de tempo de um discurso eanista e regenerador e que o segundo apresenta notórias melhorias de discurso e postura (a ponto de até já se distanciar declaradamente do regime de Putin) que talvez lhe permitam garantir uma nova respiração e a sobrevivência do seu decadente espaço político.

Sem comentários:

Enviar um comentário