domingo, 13 de abril de 2025

COM VITORINO NA MAIA

Numa sessão em que participei ontem, realizada no “Fórum da Maia” e em início de comemoração dos 25 anos da AEBA (Associação Empresarial do Baixo Ave), confirmei ao vivo as qualidades que fariam de António Vitorino (o outro palestrante) um excelente candidato à Presidência da República. Quer na forma, quer no conteúdo, Vitorino esteve muito bem, despretensioso e divertido numa matéria que pouco o proporciona mas também competente e rigoroso na abordagem das atuais tensões geopolíticas e dos seus impactos económicos. Mais em concreto, falou-nos de uma situação de enorme incerteza que apenas nos sugere duas certezas – a de que não voltaremos ao ponto em que estávamos antes da chegada de Trump, um mundo multilateral e de comércio regulado, e a de que este será o ponto de partida de um inevitável retrocesso da globalização – e uma probabilidade – a de que iremos assistir a uma forte crise do multilateralismo, com epicentro na OMC; falou-nos também do facto de a guerra tarifária e comercial constituir um pretexto para o realinhamento das estratégias económicas à escala global; falou-nos ainda do posicionamento da UE num contexto em que vai partir às cegas para negociações cujo alvo é completamente desconhecido e mutável quanto à contraparte americana, sublinhando ademais o eventual erro tático cometido por Trump ao manter uma tarifa única e assim ter ajudado indiretamente a manter a unidade europeia, e referindo adicionalmente a relevância de não serem desprezados os riscos provenientes de uma tentação de incrementar relações com a China e os três tipos de grandes vulnerabilidades e limitações que a afetam (persistente dependência em Defesa, dependência energética por via do grande montante de importações de gás liquefeito americano com que foi concretizado o de-risking em relação à Rússia e ausência de peso no tocante às grandes plataformas digitais globais que se localizam na China e EUA); e falou-nos finalmente de Portugal, sustentando que o nosso caminho tem de ser europeu, que não devemos deixar-nos ofuscar pela geoestratégia mas sim forçar que se encarem as muitas questões internas em presença (com destaque para umas Perspetivas Financeiras 2027/34 que trarão um novo quadro de referência, especialmente no que tal significará de desmembramento da Política de Coesão e da sua futura submissão a uma diversidade de políticas setoriais) e um trabalho de definição de um elenco de interesses nacionais associados à nova situação e capazes de garantir ao País uma consistência adequada nas reconversões a promover e nas oportunidades passíveis de serem coletivamente aproveitadas – toda uma nova agenda, pois, na qual tanto importaria que elegêssemos um Presidente mais sábio do que atento às luzes que brilham à sua volta; Vitorino – talvez menos hesitante do que realisticamente expectante em relação às pretensões, que me parecem totalmente ilusórias, de António José Seguro – seria, como atrás disse, uma hipótese plenamente ganhadora.


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