Enquanto prossegue animada, embora bastante básica, a discussão em torno das Legislativas, as Autárquicas do Outono já vêm mexendo desde há anos. Primeiro, porque se trata da chegada ao fim de Rui Moreira (RM), impedido de se recandidatar, e de uma sucessão apetecível para qualquer dos lados mais habitualmente ganhadores (PSD e PS). Depois, porque ainda havia algumas ilusões sobre uma eventual continuidade independente no Porto através do movimento que RM protagonizou e a que não soube ou não quis dar a devida e natural sequência, podendo ser o seu vice-presidente Filipe Araújo (FA) o assumido herdeiro do que restou, e não foi muito, dos doze anos transcorridos. Finalmente, porque os socialistas muito cedo permitiram que Manuel Pizarro (MP) fosse avançado como o nome do seu cabeça-de-lista, enquanto os bastidores social-democratas oscilavam à volta de múltiplos nomes (do regresso de Rui Rio ou de alguém por ele lançado, como seria o caso de António Araújo, de António Tavares a Miguel Guimarães, entre outras hipóteses que andaram nas bocas do mundo) para se fixarem no de um Pedro Duarte (PD) que foi preparando cirurgicamente a sua aproximação ao que chamou a sua “cadeira de sonho” (incluindo a notoriedade ministerial, a candidatura à Distrital do partido, a substituição de Miguel Macedo no “Princípio da Incerteza” ou o lançamento no Bolhão em pífia ação mista de governativa e partidária). Em paralelo, importará também perceber o posicionamento definitivo de FA e da “Iniciativa Liberal”, que esteve com RM nos três mandatos, e que se juntará a PD ou apresentará candidatura própria em função dos resultados de 18 de maio, bem assim como perceber aspetos mais marginais como o do conteúdo pessoal e substantivo da candidatura do “Chega” (que não parece suscetível de grande otimismo para as suas hostes) e o das intenções do “Livre”.
Em suma, temos agora um previsível confronto renhido entre MP e PD, com o “à terceira é de vez” desejado pelo socialista a chocar com o “não há duas sem três” que o social-democrata lhe vaticina. Mas se nos colocarmos na cabeça de um portuense médio, o certo é que os cenários não lhe surgem como auspiciosos, entre optar por um derrotado bem conhecido (e programaticamente vazio) ou por um ministro alinhado e ainda largamente incapacitado de demonstrar do que seria capaz para além da sombra protetora de Montenegro e do seu primeiro ano governativo, avaliado por uns como mais positivo do que era esperado e por outros como resultado de uma boleia do excedente estupidamente deixado por Costa e Medina. E é aqui que entra a entrevista de PD ao “Expresso” do último fim de semana, na medida em que a mesma me parece revelar uma razoável indefinição estratégica, algo perdida entre uma postura aberta e largamente visando a captação de algum eleitorado independente e de centro-esquerda e uma persistente ligação ao muito crítico discurso governativo face ao PS (“o PS ultrapassa em muitas circunstâncias o BE pela esquerda”) e a uma espécie de quadratura do círculo entre o legado de Rui Rio (“coisas bem-feitas” e “fonte de inspiração em muitas áreas”) e o que Rui Moreira pretendeu trazer de rotura em relação ao seu antecessor, aqui valendo-se de personagens que estiveram com um e com o outro mas que já pouco significado terão para a maioria do eleitorado em presença. Veremos se PD conseguirá abrir mais declaradamente à sociedade civil e assim vencer o “mais do mesmo” de MP, se vencerá este por conta de ajustes aritméticos eleitorais que tenham a IL e/ou FA por muletas e o CDS por “custo de contexto” ou se nenhuma das alternativas anteriores prevalecerá e acabará por se não sentar na “cadeira” que diz ter por aspiração de vida.
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