Os debates televisivos lá vão seguindo o calendário estabelecido ao sabor dos dias, enquanto o povo profundo segue em paralelo a sua rotineira vida real. Acho mesmo que as linhas paralelas, as tais que não se encontram, nunca foram tão marcantes na política portuguesa, onde a mediocridade e o distanciamento em relação à realidade imperam de modo gritante. E é bem visível quanto a iliteracia de todos os tipos que prevalece na distorcida forma de estar e interpretar da maioria dos cidadãos arrasta consigo um enorme potencial de adesão às bocas e “propostas” fáceis e populistas onde a incompetência e a irresponsabilidade mais ordenam; com a agravante de um Ministério Público sempre atuante no pior sentido e no pior momento em favor de um corporativismo guiado pela ambição de poder e perigosamente capaz de perverter a separação de poderes através de uma antidemocrática judicialização da política que já nem se procura disfarçar, explicar ou situar por óbvia desnecessidade do vale tudo que reina (contra algumas meritórias pregações no deserto). Temo pelas cenas dos próximos capítulos.
Os debates entraram agora na pausa pascal, a faltar ainda a realização de alguns dos mais relevantes (como o da “montenegrização” contra o “pedronunismo”). Do que tenho podido ver, concluí pela aflitiva incapacidade política de Nuno Melo, de longe o pior dos protagonistas que têm passado pelo ecrã, pela postura deslocada de Mariana Mortágua, cuja competência e preparação são encobertas por uma atitude em que predominam a zanga e a ortodoxia, pela melhoria das prestações de Paulo Raimundo, a léguas do “político tenrinho” de há um ano, pela segurança de Rui Tavares, ainda assim talvez pouco suficientemente convincente para traçar diferenças que claramente o afirmem à esquerda, pela boa-vontade lírica de Rui Rocha, embora apenas suscetível de levar consigo alguns “betinhos” emproados ou os fanáticos da causa da fiscalidade excessiva e do Estado a mais, pela boçalidade relativamente eficaz de André Ventura, um tipo cheio de si e que teima em tudo transformar em “peixeiradas” inaudíveis e atravessadas por declarações contraditórias que ainda ninguém logrou desmontar como mereceriam, pela tentativa bastante conseguida de Pedro Nuno Santos de se apresentar com uma imagem de moderação não correspondente à que adquirira enquanto enfant terrrible do “costismo” e pelo mix de bazófia e petulância que passou a caraterizar os aparecimentos de Luís Montenegro, hoje por hoje autoavaliado como um “homem novo” bem patente na figura que nem ele próprio antes reconhecia de verdadeiro estadista e “salvador da Pátria”.
O quadro é cinzento e feio que chegue. Embora dele só conheçamos o que nos é revelado pelos factos ou pelas declarações dos intérpretes, ficando por ser conhecida a maior autenticidade do reverso da medalha ou, mais concretamente, das indecências (judiciárias, partidárias ou pessoais, incluindo denúncias anónimas e a divulgação das respetivas averiguações preliminares) que lhes subjazem. Prefiram, caros leitores, que fiquemos por aqui, omitindo a pornografia que se adivinha por detrás do quadro – mas uma coisa é certa: o que quer que esteja para vir não tem ares de ser grandemente recomendável...

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