Cheguei ao mais
recente livro de John Friedmann (Insurgencies: Essays in Planning Theory,
Londres: Routledge, 2011) através de uma nota de Patsi Healey sobre
o retorno aos fundamentos na teoria e prática do planeamento e não me arrependi.
Em vários momentos do nosso percurso pela prática do planeamento e pela
reflexão sobre essa prática, a obra de Friedmann nos interpelou, marcando a
evolução dos paradigmas. Esta obra é preciosa para acompanhar esse percurso,
pois a evolução dos contributos de Friedmann, tão bem documentada na sequência
que organiza o livro, pode ser utilizada por cada um de nós (da minha geração
de planeadores) para revisitar as perplexidades, ensinamentos e angústias da
nossa própria prática.
Mas a invocação
desta obra e dos contributos de Friedmann para a prática reflexiva do
planeamento compreende-se também face ao âmbito deste blogue. Em vários dos
estádios que marcaram a evolução do seu pensamento podemos encontrar laços
relevantes com o espírito da reflexão que aqui pretendemos manter, centrada no
ir além da relação tradicional entre público e privado. Destacaria, por hoje, a
concepção do planeamento como a relação entre conhecimento e acção, integrando
o resultado desta última como uma fonte de aprendizagem social regular. É esta
concepção que tem marcado a relação entre muitos de nós e um vasto e
diversificado conjunto de actores (públicos e privados), incluindo políticos.
Inspirados por esta concepção, entretanto enriquecida por avanços no
planeamento colaborativo ou participativo (de que o próprio Friedmann foi um
pioneiro), recusamos hoje o estatuto de “políticos encapotados ou ocultos” ou
de “profissionais acríticos ou abúlicos”.
Não apenas por
mera intuição, mas como resultado da própria prática reflexiva, pode afirmar-se
que os tempos que se avizinham vão ser um campo fértil para o desenvolvimento
desta forma de encarar o planeamento. A transformação do conhecimento em input
estratégico de novos processos para dar a volta necessária a todo este processo
de fuga para o abismo alguém o terá de fazer.
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