segunda-feira, 24 de outubro de 2011

CONHECIMENTO E POLÍTICAS PÚBLICAS: REBELDIAS


 
Cheguei ao mais recente livro de John Friedmann (Insurgencies: Essays in Planning Theory, Londres: Routledge, 2011) através de uma nota de Patsi Healey sobre o retorno aos fundamentos na teoria e prática do planeamento e não me arrependi. Em vários momentos do nosso percurso pela prática do planeamento e pela reflexão sobre essa prática, a obra de Friedmann nos interpelou, marcando a evolução dos paradigmas. Esta obra é preciosa para acompanhar esse percurso, pois a evolução dos contributos de Friedmann, tão bem documentada na sequência que organiza o livro, pode ser utilizada por cada um de nós (da minha geração de planeadores) para revisitar as perplexidades, ensinamentos e angústias da nossa própria prática.
Mas a invocação desta obra e dos contributos de Friedmann para a prática reflexiva do planeamento compreende-se também face ao âmbito deste blogue. Em vários dos estádios que marcaram a evolução do seu pensamento podemos encontrar laços relevantes com o espírito da reflexão que aqui pretendemos manter, centrada no ir além da relação tradicional entre público e privado. Destacaria, por hoje, a concepção do planeamento como a relação entre conhecimento e acção, integrando o resultado desta última como uma fonte de aprendizagem social regular. É esta concepção que tem marcado a relação entre muitos de nós e um vasto e diversificado conjunto de actores (públicos e privados), incluindo políticos. Inspirados por esta concepção, entretanto enriquecida por avanços no planeamento colaborativo ou participativo (de que o próprio Friedmann foi um pioneiro), recusamos hoje o estatuto de “políticos encapotados ou ocultos” ou de “profissionais acríticos ou abúlicos”.
Não apenas por mera intuição, mas como resultado da própria prática reflexiva, pode afirmar-se que os tempos que se avizinham vão ser um campo fértil para o desenvolvimento desta forma de encarar o planeamento. A transformação do conhecimento em input estratégico de novos processos para dar a volta necessária a todo este processo de fuga para o abismo alguém o terá de fazer.

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