“No fio da navalha” é uma expressão que alguns
economistas que trabalham a incerteza utilizam frequentemente para descrever
situações de instabilidade sem perspectivas de auto-correcção. Esta é a expressão
que me ocorre para descrever sucintamente os dias mais recentes em matéria de
validação ou interpelação do processo em curso de aplicação do memorando de
resgate financeiro.
A multiplicação de opiniões sobre a eventual incapacidade
da estratégia restritiva cavar a sua própria sepultura, isto é, comprometer os
próprios objectivos que definiu constitui parte do fio da navalha em termos de
base de apoio à estratégia em curso. É sobretudo relevante essa multiplicação
entre os que afirmam não haver outra solução que não a de suportar a penosidade
do processo. Ilustração representativa desta subtil mudança de contexto:
Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo
de ontem, citando em termos gerais: “é preciso questionar os meios, porque as
opções podem, em última análise, comprometer o próprio cumprimento das metas”.
Outra fonte de fio
de navalha é a forma como o processo em curso é visto pela imprensa
internacional, designadamente na área da informação económica. Esta perspectiva
é relevante porque toda a cacofonia nacional em torno desta questão se esbate do
ponto de vista externo. Mas há referências que vale a pena ponderar. Peter Wise,
correspondente do Financial Times em Lisboa, refere no Eurozone
Crisis: live blog que “parece praticamente certo que Portugal acompanhe
a Grécia e a Espanha na incapacidade de cumprir a meta de défice público para
este ano”. São dois tipos de rombos na credibilidade da estratégia em curso.
Se acrescentarmos
a estes factores a incerteza que resulta de não ser possível equacionar a
credibilidade interna da estratégia em curso dissociadamente do rumo da solução
para a zona euro (onde a incerteza se multiplica a todo o momento), então o fio
de navalha parece ser a metáfora certa para descrever a situação dos últimos
dias em matéria de resgate financeiro.
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