sexta-feira, 21 de outubro de 2011

NO FIO DA NAVALHA


“No fio da navalha” é uma expressão que alguns economistas que trabalham a incerteza utilizam frequentemente para descrever situações de instabilidade sem perspectivas de auto-correcção. Esta é a expressão que me ocorre para descrever sucintamente os dias mais recentes em matéria de validação ou interpelação do processo em curso de aplicação do memorando de resgate financeiro.
A multiplicação de opiniões sobre a eventual incapacidade da estratégia restritiva cavar a sua própria sepultura, isto é, comprometer os próprios objectivos que definiu constitui parte do fio da navalha em termos de base de apoio à estratégia em curso. É sobretudo relevante essa multiplicação entre os que afirmam não haver outra solução que não a de suportar a penosidade do processo. Ilustração representativa desta subtil mudança de contexto: Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo de ontem, citando em termos gerais: “é preciso questionar os meios, porque as opções podem, em última análise, comprometer o próprio cumprimento das metas”.
Outra fonte de fio de navalha é a forma como o processo em curso é visto pela imprensa internacional, designadamente na área da informação económica. Esta perspectiva é relevante porque toda a cacofonia nacional em torno desta questão se esbate do ponto de vista externo. Mas há referências que vale a pena ponderar. Peter Wise, correspondente do Financial Times em Lisboa, refere no Eurozone Crisis: live blog que “parece praticamente certo que Portugal acompanhe a Grécia e a Espanha na incapacidade de cumprir a meta de défice público para este ano”. São dois tipos de rombos na credibilidade da estratégia em curso.
Se acrescentarmos a estes factores a incerteza que resulta de não ser possível equacionar a credibilidade interna da estratégia em curso dissociadamente do rumo da solução para a zona euro (onde a incerteza se multiplica a todo o momento), então o fio de navalha parece ser a metáfora certa para descrever a situação dos últimos dias em matéria de resgate financeiro.

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