DIÁRIO ECONÓMICO
“Exportadoras recusam encomendas por falta de fundo maneio”
O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), António Saraiva, afirmou hoje que “muitas empresas exportadoras encontram-se já impossibilitadas de aceitar encomendas por insuficiência do seu fundo de maneio”.
A dinâmica dos acontecimentos
em Portugal atravessa uma fase de aceleração assustadora. Tinha começado a
preparar um post em função desta notícia do Económico (http://economico.sapo.pt/noticias/exportadoras-recusam-encomendas-por-falta-de-fundo-maneio_128932.html)
e entretanto num ápice uma larga parte dos Portugueses confirma ao jantar a
aceleração do seu empobrecimento. Independentemente do facto desta comunicação
anunciar algo que só a análise da proposta de OGE permitirá avaliar a dimensão
dos danos previstos, a sensação que fica é que a via punitiva centrada no
austeritarismo está a entrar numa via sem retorno. E, como alguns economistas
nunca esqueceram, a dinâmica dos efeitos cumulativos é devastadora quando
funciona no sentido da contracção. Não há nenhum algoritmo que nos anuncie o
ponto de não retorno, mas o modo como os acontecimentos se têm combinado nos últimos
dias sugere que o ponto de não retorno, ou seja, o ponto a partir do qual o
austeritarismo autofagicamente se alimenta de nova austeridade começa a marcar
o processo de tomada de decisão. Certamente ampliado por uma incapacidade que
começa a ser evidente de selectividade do controlo da despesa, quanto mais o não
retorno se implanta mais notória é a retórica do crescimento. Compreendem-se,
hoje, melhor, os inesperados alertas que ontem surgiram e que sublinhei no post
anterior (Presidente da República e Manuela Ferreira Leite).
Por isso trouxe para a cabeça
da reflexão de hoje a afirmação do Presidente da CIP. A experiência mostra-nos
que este tipo de afirmações resulta frequentemente de posicionamentos das
Confederações Empresariais orientados para a fixação de margens negociais. Mas
neste caso creio que corresponde a uma denúncia que deve ser levada em boa
conta. Esta notícia simples evidencia até que ponto a abordagem materializada
no “acordo” da Troika não viabiliza o que, na conjuntura actual e dada a
estrutura financeira da esmagadora maioria do tecido empresarial português, constituirá
sempre a principal reserva de crescimento. Não está em causa a necessidade de
profunda reorientação do crédito ao sector produtivo, com a sua transferência
progressiva para o sector transaccionável capaz de reduzir o financiamento
externo da economia portuguesa. O que parece estar em causa é o risco sério de
que sem uma fluidez de acesso ao crédito as empresas (exportadoras) não cumprirão
o seu papel, admitindo benignamente que a envolvente internacional acolherá
esse esforço.
E, ao contrário do que o
discurso simplista sobre a destruição do aparelho produtivo, designadamente
industrial, pressupõe, a não fluidez do acesso ao crédito tenderá a matar
precocemente os casos mais promissores de resistência à dolorosa adaptação aos
novos rumos da globalização. As empresas que recuperaram mercados apesar do
euro forte, as mais preocupadas com o preço da energia do que com a questão
salarial, as que tendem a pagar acima de referências da contratação colectiva,
afinal as que têm evidenciado resiliência face aos novos desafios
internacionais tenderão a ser reféns da retórica do crescimento. A recuperação
recente do argumento já tão velhinho em Portugal de que o modelo de
financiamento das empresas portuguesas, particularmente PME, deve ser cada vez
menos dependente do crédito bancário (mercados bolsistas secundários ou outras
formas de acesso ao mercado de capitais) soa já a confirmação de que a retórica
do crescimento não passa disso. No fundo, uma outra forma de não retorno,
buscando soluções não compatíveis em tempo de maturação e implementação com a
gravidade da situação.
"Curiosamente, ontem, o presidente do BES, Ricardo Salgado, deslocou-se ao edifício onde decorria o Conselho de Ministros, duas horas antes de Passos Coelho falar ao país. Mas, segundo afirmou, esteve apenas reunido com o secretário de Estado Feliciano Barreiras Duarte para falar de questões de imigração" (in Jornal Público de 14 de outubro de 2011).
ResponderEliminarPresumo que a jornalista Ana Rita Faria se tenha equivocado...trocou "emigração" por "imigração"!