A União Europeia (UE) mudou de natureza com o surgimento da Zona Euro. Ao que antes fora uma construção largamente política motivada pelos traumas de duas grandes guerras, e sucessivamente capaz de ir vencendo dificuldades e reforçando ambições, sucedeu a “troca desigual” (“the whole of Germany to Kohl, half the Deustche Mark for Mitterrand”) tornada viável pela implosão soviética e abrindo caminho a esse desafio máximo de uma união económica e monetária (UEM). “One market, one money”, eis aquela que foi a síntese alegadamente perfeita dessa “demasiado grande aventura” (The Economist, 1994) cujas exigências de sucesso pressupunham condições que dificilmente estavam – e cada vez menos vieram a estar – preenchidas.
Nesse clima optimista de há vinte anos, e embora reconhecendo-se politicamente díspar e economicamente fragmentada, a UE apresentava-se confiante ao ponto de prescindir de fazer opções entre aprofundamento e alargamento (escolhendo ambos!) e de deliberadamente querer ostentar os galões de campeã mundial da liberalização comercial externa (trocando, objectivamente, abertura de mercados de produtos industriais tradicionais pelos interesses de fabricantes de automóveis e aviões alemães e franceses e de importadores britânicos e holandeses!).
Empurrada pela afirmação de vontades políticas fortes e determinadas, a UE parecia então capaz de admitir ir ao ponto de se dotar de um orçamento comunitário significativamente reforçado e de patrocinar entretanto, com generosidade, o “catching-up” de parceiros menos sólidos (por via do lançamento de uma “coesão económica e social” compensatoriamente sólida!). Mas o facto é que esta Europa – que alguns bem-intencionados quiseram erroneamente ler como da “solidariedade” –, se existiu, não existe mais…
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