Impossibilidades
de vária ordem determinaram que não pudesse aqui comentar os resultados da
cimeira da Zona Euro da madrugada de 27 do corrente mês. Esta simples distância
de dois dias entre essa comunicação e o dia de hoje é estranhamente suficiente
para avaliar com mais rigor e desencanto a comunicação então realizada.
Parece ser cada
mais evidente que, entre os sorrisos mais ou menos circunspectos dos líderes na
fotografia final, com os quais podemos encontrar alguma correspondência nas reacções
imediatas dos meios de comunicação, e o desenvolvimento e comentários nos dias
seguintes, o desvio começa a ser preocupantemente mais significativo.
Analisando os
materiais conclusivos que saíram da cimeira e os comentários mais ponderados
que se lhe seguiram, ressalta em primeiro lugar que a natureza da declaração
final começa por ser insuficiente para pesar em bom rigor a efectividade dos
resultados atingidos. O aspecto que melhor ilustra essa insuficiência é a decisão
do “haircut” de 50% na dívida grega. Afinal, o que a declaração consagra é o
acordo com o representante da banca internacional neste processo (o Institute
of International Finance), desenvolvendo-se agora a complexa gestão das
participações “voluntárias” nesse processo. Se estive atento e compreendi bem,
ainda ontem havia instituições bancárias nacionais que não sabiam concretizar o
impacto real dessa decisão nos seus balanços. De uma decisão voluntária a um
corte efectivo e involuntário haverá procedimentos complexos a considerar e do
ponto de vista do impacto real essa “nuance” é mais relevante do que pode
parecer. Depois, a solidez do sistema de protecção que o Fundo de Estabilidade
Financeira pretende representar continua a ser fortemente tributário da solidez
dos países que nele participam. Não pode ainda considerar-se como uma nova
ameaça de alarme, mas alguns espíritos ficaram abalados pelos resultados da ida
ao mercado da Itália após a cimeira.
Mas a cimeira nada
contribuiu para dissipar os “caminhos da dúvida” gerados por toda esta situação.
Todos esses caminhos vão dar a duas matérias cruciais: a incapacidade de
reconsideração do papel do Banco Central Europeu e a não produção de soluções
para acomodar na Zona Euro as performances divergentes de crescimento e de défices
(excedentes) externos. Quanto ao primeiro,
a declaração continua inamovível :”We fully support
the ECB in its action to maintain price stability in the euro area”.
Quanto ao segundo, o vazio é total e
nessa medida muitos observadores consideram que a previsão de uma meta de 120%
para o rácio grego Dívida/PIB continua a subvalorizar o impacto da austeridade
no crescimento económico. No fim de contas, tanto esforço para estruturalmente
as ameaças permanecerem.
Sem comentários:
Enviar um comentário