Por tradição de estratégia
pessoal de pesquisa, sempre gastei mais pestanas a procurar incongruências nos
paradigmas económicos dominantes do que a navegar nos universos alternativos de
investigação. Trata-se de uma simples opção pessoal de afectação de tempo e não
tem implícita nenhuma avaliação pejorativa da qualidade do universo
alternativo, que é, tal como o primeiro, heterogéneo. Tenho aplicado esta
discutível opção a tentar encontrar brechas relevantes na abordagem dominante à
crise das dívidas soberanas e à sua contígua expressão da crise da zona euro. E,
diga-se, que mais amplamente do que seria de antever, essas brechas têm vindo a
mostrar-se cada vez com mais nitidez, vindas de dentro, por outras palavras de
origens e testemunhos com uma audiência francamente mais ampla do que as críticas
exteriores, por mais estruturadas que estas se apresentem.
Não resisto nesta orientação a
destacar neste espaço de reflexão o mais recente artigo de Wolfang Münchau no Financial Times
(Outubro 16, 2011: www.ft.com) sobre a incapacidade de proposta de uma solução
consistente para a zona euro. O argumento que preside a esta crítica que
considero demolidora assenta afinal nas ideias básicas iniciais que
transmitimos aos nossos alunos de economia quando contrapomos o micro e o
macro. As 17 economias da zona euro quando perspectivadas individualmente são
pequenas e abertas. A zona euro é uma economia de grande dimensão e fechada. Toda
a política económica actual estaria a ser conduzida com base num erro macro
crucial: não ter em conta o impacto global das terapias de austeridade
recomendadas para cada uma das economias. O somatório de políticas macroeconómicas
de 17 pequenas economias abertas tenderá a produzir uma solução indesejável
para a grande economia fechada que, no seu conjunto, representam. Pela simplicidade
do que está aqui em causa estaremos perante um macro erro de proporções e
custos sociais e económicos incalculáveis. E o que é mais grave (o economista
alemão não morre de amores pela Comissão Europeia) é que esta última
institucionaliza o macro erro e vende-nos a fábula de que uma contracção fiscal
pode ser expansionista, não afectando decisivamente o crescimento a curto
prazo. E demolidor quanto baste: “os economistas europeus são daqueles que não
desistem de uma teoria com base em evidência empírica. (…) Não ficaria
surpreendido que a consequência de um programa de austeridade falhado fosse um
outro programa de austeridade”.
Quem diria que citar o Financial
Times poderia ser tão estimulante e demolidor. Mas, por detrás das evidências empíricas
que não convencem os economistas europeus (leia-se da burocracia europeia ou ao
seu serviço), não há apenas números, há pessoas com capacidade de reacção …
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