segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ERRO MACRO OU MACRO ERRO?


Por tradição de estratégia pessoal de pesquisa, sempre gastei mais pestanas a procurar incongruências nos paradigmas económicos dominantes do que a navegar nos universos alternativos de investigação. Trata-se de uma simples opção pessoal de afectação de tempo e não tem implícita nenhuma avaliação pejorativa da qualidade do universo alternativo, que é, tal como o primeiro, heterogéneo. Tenho aplicado esta discutível opção a tentar encontrar brechas relevantes na abordagem dominante à crise das dívidas soberanas e à sua contígua expressão da crise da zona euro. E, diga-se, que mais amplamente do que seria de antever, essas brechas têm vindo a mostrar-se cada vez com mais nitidez, vindas de dentro, por outras palavras de origens e testemunhos com uma audiência francamente mais ampla do que as críticas exteriores, por mais estruturadas que estas se apresentem.
Não resisto nesta orientação a destacar neste espaço de reflexão o mais recente artigo de Wolfang Münchau no Financial Times (Outubro 16, 2011: www.ft.com) sobre a incapacidade de proposta de uma solução consistente para a zona euro. O argumento que preside a esta crítica que considero demolidora assenta afinal nas ideias básicas iniciais que transmitimos aos nossos alunos de economia quando contrapomos o micro e o macro. As 17 economias da zona euro quando perspectivadas individualmente são pequenas e abertas. A zona euro é uma economia de grande dimensão e fechada. Toda a política económica actual estaria a ser conduzida com base num erro macro crucial: não ter em conta o impacto global das terapias de austeridade recomendadas para cada uma das economias. O somatório de políticas macroeconómicas de 17 pequenas economias abertas tenderá a produzir uma solução indesejável para a grande economia fechada que, no seu conjunto, representam. Pela simplicidade do que está aqui em causa estaremos perante um macro erro de proporções e custos sociais e económicos incalculáveis. E o que é mais grave (o economista alemão não morre de amores pela Comissão Europeia) é que esta última institucionaliza o macro erro e vende-nos a fábula de que uma contracção fiscal pode ser expansionista, não afectando decisivamente o crescimento a curto prazo. E demolidor quanto baste: “os economistas europeus são daqueles que não desistem de uma teoria com base em evidência empírica. (…) Não ficaria surpreendido que a consequência de um programa de austeridade falhado fosse um outro programa de austeridade”.
Quem diria que citar o Financial Times poderia ser tão estimulante e demolidor. Mas, por detrás das evidências empíricas que não convencem os economistas europeus (leia-se da burocracia europeia ou ao seu serviço), não há apenas números, há pessoas com capacidade de reacção …

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