A rentrée política espanhola está naturalmente ao rubro e
as autonomias estão no meio da roda.
Uma dança estranha, pois o governo PP conseguiu adestrar
alguns participantes na roda, mais propriamente as regiões com governos PP,
sabe-se lá com que promessas e futuras contrapartidas. Ouvir declarações dessas
lideranças regionais clamando pelo interesse da recuperação da Espanha soa um pouco
a falso, mas o governo PP joga com as armas que tem.
A Catalunha e a Andaluzia têm sido as mais renitentes a aceitar
o jogo das reuniões do Conselho de Política Fiscal e Financeira, no sentido de
fixar tetos de endividamento às comunidades autónomas. Estas comunidades esgrimem
sobretudo o facto do governo espanhol não ter repercutido para as suas imposições
a pequena folga de evolução do défice concedida ao ajustamento orçamental de
Madrid.
Mas a dança na Catalunha tem todas as condições para ser
mais agitada e provavelmente bem menos elegante que uma sardana dançada numa
praça de Barcelona seja por um grupo especializado ou por um grupo simplesmente
catalão de famílias. Esta semana tem início um rodopio de grandes decisões, ou
melhor de decisões políticas que podem revelar-se grandes ou pequenas, isso
dependerá do jogo de forças que tais decisões vierem a determinar. Senão
vejamos.
Já amanhã, o governo autonómico decidirá se verga os seus
interesses à ação do Fundo de Liquidez Autonómico. Em palavras simples, decidir
se pede ajuda a Madrid para resolver questões de pagamentos imediatos e de solvência
da dívida (uma ironia das crises das dívidas, mas que ironia!).
Noutro plano, continua em aberto a negociação do pacto
fiscal, através do qual o governo autonómico acenou pela primeira vez com o
espectro independentista. Essa negociação tem fortes implicações políticas a nível
da região e a nível nacional. Até aqui seduzido por alguma aproximação ao PP, a
CiU tem namoriscado nos últimos dias com a Esquerda Republicana Catalã
(Esquerra Republicana de Catalunya), namoro que para ser consequente tem desta última
uma condição inequívoca: quebrar todos os relacionamentos com o PP em Barcelona
e em Madrid.
Mas o momento crucial da dança nos próximos dias será
inequivocamente a grande manifestação do próximo 11 de Setembro de 2012,
convocada pela Assembleia Nacional Catalana, a chamada Diada Nacional de Catalunya,
dia nacional que “comemora a queda de Barcelona às mãos das tropas dos Bourbon
sob comando do duque de Berwick durante a Guerra de Sucessão Espanhola em 1714,
depois de um cerco de catorze meses”. O dia também recorda a posterior abolição
das instituições catalãs com a promulgação dos Decretos da Nueva Planta de 1716
(Wikepedia).
A grande interrogação parece ser a de transformar a Diada
deste ano numa poderosa marcha de suporte à negociação do Pacto Fiscal ou se,
pelo contrário, a mesma se transforma num caminho para a afirmação do
independentismo. Mas que rentrée!
Sem comentários:
Enviar um comentário