terça-feira, 14 de agosto de 2012

O PROFETA DO PONTAL


Não faço ideia se o primeiro-Ministro Passos Coelho teve tempo ou condições para ajustar o seu discurso da “rentrée” política à concentração hoje observada de notícias sobre o clima recessivo nacional e europeu.
No caso português, as estimativas rápidas do INE sobre as contas nacionais do 2º trimestre e os dados das Estatísticas do Desemprego confirmam a relevante queda do produto interno face ao trimestre homólogo de 2011 (- 3,3%) e a escalada inexorável do desemprego para os 15%. No primeiro caso, o ciclo de rebaixamento combinado do consumo e do investimento mais do que contrabalança negativamente a resiliência das exportações. No segundo, a dimensão estrutural do valor dos 15% resistirá à sanha liberalizadora do mercado de trabalho.
A nível europeu, o “entusiasmo” com mais uma décima percentual de crescimento alemão face ao estimado não chega para compensar a estagnação económica francesa e a recessão instalada nas economias sob resgate efetivo ou potencial. Mesmo a economia finlandesa vê o seu produto retrair-se de 1% face ao trimestre anterior, o que não deixa de ser a evidência de que os europeus, mais a norte ou mais a sul, estão todos no mesmo barco, à deriva e nem sequer com capacidade para navegar à vista.
Ora, face a esta convergência de evidências, Passos Coelho lança o seu curriculum como profeta e afirma que 2013 será o ano da inversão e da recuperação e que não será um ano de recessão. Para memória futura, 2013 não será um ano de recessão. Talvez num tom maledicente, vários jornalistas referiram o pouco entusiasmo de militantes perante tal profecia. É o menos importante. O que fica é a profecia.
Entretanto, o PS agarrou-se ao registo do “explique-se senhor primeiro-Ministro” como se não fizesse parte do problema e não continuasse a ser parco em alternativas de confiança. O atual porta-voz parece fazer parte de uma nova geração promovida por Seguro. Nada se tem notado em matéria de rejuvenescimento do discurso.

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