Não faço ideia se o primeiro-Ministro Passos Coelho teve
tempo ou condições para ajustar o seu discurso da “rentrée” política à
concentração hoje observada de notícias sobre o clima recessivo nacional e
europeu.
No caso português, as estimativas rápidas do INE sobre as
contas nacionais do 2º trimestre e os dados das Estatísticas do Desemprego
confirmam a relevante queda do produto interno face ao trimestre homólogo de
2011 (- 3,3%) e a escalada inexorável do desemprego para os 15%. No primeiro
caso, o ciclo de rebaixamento combinado do consumo e do investimento mais do
que contrabalança negativamente a resiliência das exportações. No segundo, a
dimensão estrutural do valor dos 15% resistirá à sanha liberalizadora do
mercado de trabalho.
A nível europeu, o “entusiasmo” com mais uma décima
percentual de crescimento alemão face ao estimado não chega para compensar a
estagnação económica francesa e a recessão instalada nas economias sob resgate
efetivo ou potencial. Mesmo a economia finlandesa vê o seu produto retrair-se
de 1% face ao trimestre anterior, o que não deixa de ser a evidência de que os
europeus, mais a norte ou mais a sul, estão todos no mesmo barco, à deriva e
nem sequer com capacidade para navegar à vista.
Ora, face a esta convergência de evidências, Passos
Coelho lança o seu curriculum como profeta e afirma que 2013 será o ano da
inversão e da recuperação e que não será um ano de recessão. Para memória
futura, 2013 não será um ano de recessão. Talvez num tom maledicente, vários
jornalistas referiram o pouco entusiasmo de militantes perante tal profecia. É
o menos importante. O que fica é a profecia.
Entretanto, o PS agarrou-se ao registo do “explique-se
senhor primeiro-Ministro” como se não fizesse parte do problema e não continuasse
a ser parco em alternativas de confiança. O atual porta-voz parece fazer parte
de uma nova geração promovida por Seguro. Nada se tem notado em matéria de
rejuvenescimento do discurso.
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