Agora que os Jogos se aproximam do fim alguma reflexão
estival é possível, por isso não muito profunda, sobre o significado e alcance
da presença portuguesa.
Se há regularidade que possa ser avançada é a de que a
elite da competição portuguesa não se dá bem com a pressão mediática e de um país
às costas. Pelo contrário, o efeito-surpresa funcionou, ou seja, em modalidades
como a canoagem, o remo e o próprio hipismo em que as expectativas eram mais
baixas acabámos por ter melhores resultados, com a prata de Emanuel Silva e
Fernando Pimenta a salvar a delegação olímpica portuguesa.
A alta competição e a organização dos recursos internos
ganham hoje vantagem em ser compreendidas sob o desígnio da formação de elites.
E neste campo a sociedade portuguesa tem claramente uma baixa performance, até
porque nos tempos que correm o país não consegue fixar as poucas elites que vai
conseguindo, mesmo assim, formar.
O êxito com pronúncia do Norte que soube bem reconhecer
de Emanuel Silva e Fernando Pimenta tem de ser compreendido no âmbito de opções
de fundo na canoagem que foram assumidas já há algum tempo e que parece hoje
começarem a produzir resultados. Aumento da massa crítica de participantes,
criação de um centro de alto rendimento (Montemor-o-Velho), importação de know-how técnico empenhado, profissional
e diligente (treinador polaco), experiência internacional e sobretudo
predisposição de alguns atletas para o esforço persistente (cerca de 200 dias
de estágio ano). Se retirarmos da análise alguns fatores antromórficos (há
gente mais forte e geneticamente adestrada do que nós), a receita da canoagem é
afinal a que, com maior ou menor intensidade, explicam as medalhas e o seu
ranking por esse mundo fora. Afinal, não há muito que inventar. Também aqui o
conhecimento está fortemente internacionalizado e circula com grande facilidade
por esse mundo fora. Pela nossa dimensão, somos e continuaremos a ser um país “follower”,
isto é, um país que dependerá da difusão de conhecimento que outros produzem
pioneiramente.
O entusiasmo por vezes balofo de alguns governantes
(incluindo o Presidente) que se derretem com os nossos resultados desportivos
ganharia em ser substituído por ideias mais firmes e coerentes sobre a formação
desportiva em Portugal. A ideia peregrina e estúpida de que os grandes clubes
em Portugal se substituirão naturalmente ao Estado nessa tarefa vai ser paga
com uma fatura elevada. A desvalorização e esvaziamento progressivos com que o
desporto escolar foi presenteado nas últimas governações limita fortemente,
sobretudo no país fora das grandes aglomerações metropolitanas, o alcance de
uma política de formação desportiva. A alta competição não é dissociável da
massa crítica de praticantes em qualquer modalidade. Agora que parte das
infraestruturas escolares foi substancialmente melhorada, choca ver o abandono
do desporto escolar como base mínima para um alargamento da massa de
praticantes, num país que parece querer especializar-se no manejamento exímio
de consolas, telemóveis ou outros gadgets.
A pronúncia do Norte de Emanuel Silva e Fernando Pimenta
foi um sinal de clarividência.
Fora isso fica a evidência de que grandes expectativas
quanto a medalhas saem regra geral furadas. Não somos gente para grandes pressões
mediáticas. A nossa pressão é a da sobrevivência e da flexibilidade para a
garantir. Aí provavelmente ninguém nos bate, aqui ou em qualquer outro lugar.
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